Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.
- Carlos Drummond de Andrade
Todo escritor é intolerante e todo leitor é curioso, mas apesar de estas serem características um tanto quanto distintas, ambos são regidos pelo mesmo motivo. A expressão escrita não permite que o outro incomode suas vírgulas, lacunas e pontos finais, é a expressão dos impacientes, daqueles que não querem ter que discutir muito. Você joga suas idéias, alguém lê e se não concordar, que procure outro texto. Se não lhe entendeu, que interprete, que se vire, que vá as favas. Há certa dose de prepotência na escrita, que reside na possibilidade de sempre dizer que o outro lado que foi incapaz de sentir e por isso o texto não lhe serviu. Escritores nunca se admitem medíocres, é uma raça insuportável apoiada nessa premissa de culpar o outro. Drummond sabia bem disso: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.
O leitor é parecido, já que não quer lhe olhar nos olhos e perder suas horas entre conversas e vinhos, ele só quer saber o que você pensa, não quer tentar lhe mudar ou lhe convencer. Muito pelo contrário, o leitor quer que alguém fale por ele e vai buscar, de palavra em palavra, algo que possa roubar para sua realidade. Diga-se de passagem, foi isso que fiz ao roubar a frase de Drummond, deixei que ele se expressasse por mim, por julgar que possui mais clareza e elegância.
Existe um sem fim de poesias de Drummond das quais me valho ao tentar entender porque escrevo tanto. Sou compulsiva, posso passar horas e horas ouvindo o barulho do grafite arranhar no papel. Ele me ridicularizaria, já que minha expressão é intencional, meus textos tem uma finalidade estabelecida. Ele estava certíssimo ao dizer que a arte de verdade é aquela que deixa escapar, sem querer, uma ponta de beleza. Eu não, não transbordo essa beleza ao acaso, cada palavra aqui é forçada e sua posição no texto é escolhida depois de uma análise lógica digna de jogadores de xadrez. Não consigo me culpar por isso, sou engenheira e a beleza que enxergo nessa dança de ritmos e cadências vem exclusivamente do ato de vê-las como argumentos estratégicos. O papel não julga seu tom de voz, não percebe seus vícios através da pupila, ele apenas aceita. Qualquer coisa, nunca vai dizer que aquela mão que o rabisca pertence a um péssimo fingidor.
Fernanda Maria Ribeiro Fernandes, é contra indicada. Mentira. O título aham, Cláudia, senta lá é um outro bom exemplo. Impaciência e grosseria podem ser pensados quando se vê a já famosa frase da "Rainha dos Baixinhos" num dia inspirado (sic). Ironia da Fernanda, claro, no Tumblr, uma mistura de blog e microblog, ela faz de uma espécie de diário, um espaço incrível de criação e reflexão sobre os mais variados temas.
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