quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Divulgando - 2º Festival Flaskô Fábrica de Cultura

. . Por Thiago Aoki, com 0 comentários



Colocar a arte em uma vila operária é também dessacralizá-la. Há em alguns setores do meio artístico e da "intelectualidade", ainda que não se admita, certo receio com este tipo de ação ousadamente proposta e realizada pela Flaskô. O medo dessa parcela de pessoas, em geral, é o de que pessoas "comuns" não estão preparadas para a fruição artística, agregando ao adjetivo "cult", um valor de mercado ou diferenciação que deve ser exclusividade dos iluminados que têm "capacidade" de absorver tais linguagens artísticas.

Definir arte, por si só é uma tarefa contraditória. Para mim, não necessariamente a arte tem uma função social, que levará diretamente a uma suposta mudança social - como boa parte dos artistas dos anos 60 chegaram a se pautar - tampouco um caráter meramente conceitual, quando um artista conversa apenas com seus pares, caso de parte da produção contemporânea. A mesma lógica do sujeito ter que saber o processo de formação de uma cerveja para ter "capacidade" de apreciá-la é a utilizada por "especialistas" para definir o que é arte e a qual o grau de "capacidade" deve ter o espectador para fruí-la.

Pelo contrário, a arte é viva, imaginativa, não caberia em linhas, por mais prolixas e compridas que fossem. Deve, acima de tudo incomodar, provocar, fugir da normalidade para que ela seja questionada, trazendo à tona anseios de uma época, ainda que sem essa intenção. Mesmo que seja para pensarmos "por que chamam isso de arte?". Neste sentido, a Flaskô , ao tirar o teatro do teatro, os esportes do clube, a exposição do museu, os universitários da universidade é, em menor escala, fazer o mundo sair de sua zona de conforto. A síndrome que a democracia vive e a arte, bem como seu mercado, parece caminhar: transtorno obsessivo contra a mudança.

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Não perca:

12/08 - 20h - A Brava, com a Brava Companhia.

Um dos grandes destaques do teatro de rua, a Brava companhia, que estorou na cena do teatro nacional com o fantástico "Este lado para cima" (2010), leva ao festival da Flaskô, "A Brava", que conta a história de Joana D'Arc, sendo o primeiro trabalho impactante da companhia, fruto de pesquisa no teatro de rua, modalidade característica do grupo..

13/08 - 20h - Conjugado, com Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes.


O grupo venceu a categoria especial do Prêmio Shell, o oscar do teatro nacional, mas fizeram questão de manter suas convicções. Na hora de receber o prêmio, um dos atores declamou um texto que dizia frases como "crianças iraquianas explodem", enquanto outra atriz jogou óleo preto no trofeu, simbolizando os estragos da empresa que patrocina a premiação.

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Mas se você já conhecia esses espetáculos, vale uma visitinha guiada pela fábrica, gerida desde 2003 pelos seus próprios trabalhadores, que seriam demitidos após a falência da empresa e que agoram arriscam-se, com sucesso em uma nova produção, a cultural.



Que a arte, assim como a vida, não se mumifique...

A programação completa pode ser encontrada aqui.

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