domingo, 16 de janeiro de 2011

Poeira Nas Entrelinhas

. . Por Fábio Accardo, com 3 comentários

Ler ouvindo "Eu quero é botar meu bloco na rua" de Sérgio Sampaio


Lembro-me de um dos indigestos contando-me uma história que lhe ocorrera num ônibus em Campinas, onde um certo senhor reclamava sobre qualquer coisa (que poderia não ter nem aberto a boca para tal). Reclamação essa menos importante aqui nesse relato, diante de tamanho impacto da sua ação seguinte. Segundo nosso indigesto detalhista o senhor teria coloca as costas da mão direita no ombro esquerdo e agitado a mão como se "espanasse" uma poeirinha ali, proferindo frase sem igual:

- No tempo das estrelinhas que era bom!

Não mais inquietante foi ler nessa última terça-feira, dia 12 de janeiro desse ano novo, o texto de Jorge Roriz (capitão da reserva do Exército e deputado federal pelo PP do Rio de Janeiro) publicado no espaço Tendências e Debates da Folha de São Paulo. O texto intitulado Comissão da Inverdade coloca a "revolução de 64" como um golpe democrático dos militares e nos "revela" que foi uma demanda da imprensa, da Igreja Católica, de empresários, de agricultores e de mulheres, que saíram às ruas pedindo aos militares que salvassem a nação da possibilidade de uma ditadura do proletariado e que os militares deflagraram um Estado democrático ao Brasil. O texto do comandante do exército e deputado federal faz referência a Comissão da Verdade, projeto de janeiro de 2010 do ainda presidente Lula, que previa uma comissão para apurar crimes de tortura e assassinato por militares durante o regime militar. Modificado em maio de 2010, prevê, então, a investigação de violação aos direitos humanos praticados durante o regime militar, tanto pelos militares como por grupos contra a ditadura.

O projeto parecia ter sido esquecido quando a então presidenta eleita Dilma Roussef apressa-se em aprovar o projeto. Participante ativa de grupos guerrilheiros armados da esquerda que lutavam contra a ditadura militar instaurada no Brasil, Dilma violou direitos e foi vítima de torturas. O caro Jorge Roriz parece tapar aos olhos para enxergar o número de casos de mortes e torturas a milhares de pessoas por todo o Brasil e enxerga com clareza e precisão o caso de um carro bomba que explodiu no QG do primeiro Exército matando UM almirante e UM recruta. Não é o caso aqui de auferir justiça nas mortes ou qualquer viés democrático ou anti-democrático às ações de um lado ou outro, mas não se pode fazer-se cegar estrelinhas no ombro e nacionalismos encravados no peito.

Ainda nesse curto período como presidenta Dilma já causou nova polêmica ao mandar retirar Bíblia e crucifixo do seu gabinete no Palácio da Planalto. Tema recorrente dos embates políticos nas campanhas eleitoreiras de 2010, Dilma, que diziam atéia, se colocou a favor da liberdade religiosa, escapando de uma caracterização que poderia tirar alguns votinhos dela.

Seria referida ação resultado do respeito a liberdade de culto ou de sua antiga prática libertária de esquerda?

Dizer que a esquerda só chegou ao poder graças aos militares de 64 que impediram a instalação de uma ditadura do proletariado...doeu!

3 palpites:

Lendo seu texto, lembrei como a estrela é um símbolo forte. Representa os militares, do PT, do caminho seguido para encontar Jesus pelos reis magos, além de cada título brasileiro.

Como já te disse, o artigo do Roriz é assombroso, e não é voz solitária. Engraçado como lidamos diferente com nosso passado do que os outros países da América Latina, por exemplo, onde provavelmente uma voz como a de Roriz ressoaria bem menos. Tanto que, aqui, o argumento de Dilma ter lutado contra a ditadura foi, durante a campanha, utilizado CONTRA ela.

Inércia!

Agora, mais assombroso, muito mais assombroso ainda é isso (não se assuste!):

http://www.youtube.com/watch?v=wrACl43SuNc

Veja as cinco partes...

Abraços...

Sou tão apaixonada por essas pequenas trocas de letras (eNtrelinhas/eStrelinhas) que não consigo nem fazer um comentario mais "macro" que isso, ainda que o conteudo do texto seja bem bacana! :]

(antes tarde que muito mais tarde)

Fabinho,

gostei do texto, e é sempre com a alegria que você nos dá que leio teus textos!

a primeira coisa que me chamou a atenção, e que eu já falara algumas tantas vezes com nosso oriental fitness, foi o lance do "ler ouvindo". acho muito importante uma ferramenta de áudio para o blog, não somente para a página de abertura do MI, como também, termos a opção de ao abrir determinada postagem, se quisermos, e quem ler também, poder optar por ouvir uma música sugerida ou já linkada diretamente. logo escrevo mais sobre isso, andei pesquisando ;)

não é por nada não, sabe, mas essa história das "estrelinhas nos ombros" é boa, né?! :p

como rolou nos bastidores aí, pelo que me chegou, teu texto sofreu a pecha de ser como um texto meu: sem pé nem cabeça! não é pra tanto, convenhamos, sem falsa modéstia, achei que o único momento deslocado do teu texto mesmo, que abriu uma lacuna, e cuja conexão ficou, senão muito sútil, pra mim, inesistente, foi entre as pequenas ações simbólicas que você cita, quanto a religião, que não "jogam" com o restante do texto...

no mais, a temática é ótima, e merece mais que apenas comentários, e uma discussão entre textos, explorando essa relação que, espero, nos próximos quatro anos seja encarada com mais decisão e clareza que nos últimos oito...

Abração!

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