Acabo de voltar do cinema...Com raiva...Hoje em dia, em épocas de avançado estágio de acumulação capitalista, é quase um pecado perder hora e meia de tempo por filmes que não valem os R$3,50 da promoção de segunda! Tem também um amigo que me dizia que assistir filme ruim no cinema é como brochar. Como não sei o que significa o segundo termo, apenas digo que a estadia no cinema hoje foi muito, muito, muito ruim pra mim. Por não querer pagar alguns cruzeiros a mais pelo tridimensional "Alice no país...", acabei caindo na cilada de assistir ao longa brasileiro "Segurança Nacional", estrelado pelo Thiago Lacerda (eu sei: não deveria me surpreender com a ruindade do filme!). Nem o ótimo Milton Gonçalves, que faz o papel de um presidente popular e negro de nosso país salva a fraquíssima trama. A história, mirabolante, consegue pegar as piores características hollywoodiana, e ampliá-las ao extremo. Não é preciso ser cinéfilo para achar ruim a arte do filme, pra saber que a trilha sonora estava mal encaixada, que os diálogos eram toscos, que a atuação dos atores foi terrível e o roteiro pra lá de incoerente. Prova disso é que, ao acabar o cinema, as pessoas riam de indignação ou, impotentes diante da situação, suspiravam de sofreguidão por ter aguentado aqueles 90 minutos. Enfim, não tinha nada de mais passando, o que é normal, pois as estreias param durante o período da copa, só queria mesmo é aproveitar a ida ao shopping e a promoção do cinema.
De qualquer modo, o que mais me assusta é saber que o filme já havia rodado em 2006 e só agora chegou as telonas, bem em ano eleitoral. Num enredo pra lá de duvidoso, com um presidente da república sensato e sensível, um serviço de inteligência que deixaria a CIA no chão e um exército de poderio que amedrontaria qualquer superpotência. O centro de discussão do filme é o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), defendido por governistas e criticado por opositores - que no final também estão envolvidos com o tráfico. Thiago Lacerda interpreta, pessimamente, um Jack Bouer brasileiro, como bem definiu a crítica do Omelete. E ele, em conjunto com a eficiência do serviço secreto e a coerência do presidente, consegue evitar um desastre atômico por traficantes colombianos que, sabe-se lá como, conseguiram uma bomba nuclear. Além disso, a tônica ufanista predomina, com várias cenas em que o conteúdo é estreitamente a bandeira tremulante. O presidente é ovacionado por criancinhas, enquanto o hino nacional é cantado, e não pela Vanusa. Todas as cenas em que a FAB entra em ação, o nome dos caças e das armas são exibidos, louvando nossa potência armística. Em uma das tomadas, operários da Petrobrás trabalham contente e felizes com seus uniformes-propagandas. Enfim, por que a volta do filme às telonas? Sem sucesso, sem público, sem críticas? Um filme patrocinado por Ancine e Petrobrás, com parceria com dezenas de empresas.
Quando saiu o filme "Lula, o filho do Brasil", fui um dos poucos que defendi sua exibição, pois a biografia do presidente, ao meu ver, é talvez a mais interessante do país, por sua trajetória e amplitude. E mais, cinematograficamente daria um bom roteiro. Ainda não tive coragem de assistí-lo, pois, ao que tudo indica, a linguagem idealista e mercadológica também vai de encontro ao que se faz em "Segurança Nacional", ou seja, instrumentaliza-se o cinema para chegar sabe-se lá aonde.
Infelizmente, por vezes, em diversos momentos da história mundial, a autonomia que deveria existir na cultura é comprometida pela necessidade de se adequar o projeto à linha de financiamento das agências governamentais. Se bem que esse filme mais atrapalha do que melhora a imagem do governo, pois é impossível não se questionar do porquê de algum dinheiro ser destinado a tal produção.
Mas, calma, Lula não é um mentiroso, safado, analfabeto, blá blá blá. Na política nacional não existem santos ou demônios. Até acho que a cultura é hoje um dos pontos fortes do governo. Conseguiu uma ampla mudança desde que o PT chegou ao poder, retomando os investimentos do Estado e ampliando as linhas de fomentos, tudo isso com um importante aumento na auto-estima nacional. Aliás, tinha engatilhada para hoje uma postagem sobre as mudanças nas políticas culturais do governo Lula para FHC, já com vistas às eleições desse ano, na qual, mais uma vez, todos falarão sobre a cultura e educação. Afinal, dizer que apoia a cultura é tão fácil como dizer-se contra a pedofilia. De qualquer modo, essa postagem ficará para outra hora, ou para outro Indigesto, porque esse filme me deu uma paralisia racional, e as únicas palavras que me vêm à mente são para desfazê-lo.
4 palpites:
eu gosto de filmes nacionais
mas realmente, as vezes eles parecem uma afronta a nossa inteligência
Excelente texto.
Bem, diante de sua contundente crítica, acho que não vai ser possível assistir ao "famigerado SN".
Nem tanto pelas atuações, roteiro, trilha sonora etc. Mas pelas propagandas descaradas. Para mim não há nada menos desanimador que uma propaganda mau colocada em um filme.
Simplesmente acaba com minha alegria e coloca ponto final em qualquer possível paixão.
ABÇão
MarGGa Duval
mais um viva às comédias românticas...
nunca me decepcionei com comédias românticas...
Então espera pra assistir Área Q. Os (d)efeitos especiais no trailler humilham até o Programa do Didi...
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