Primeiramente, gostaria de agradecer ao milhares de e-mail de nossos assíduos leitores dizendo que sentiam falta de minhas postagens. As férias de uma semana que tirei da internet me fizeram bem. Em contrapartida aos quilos a mais, o namoro nos impulsiona culturalmente, pelo menos no que diz respeito ao cinema. Fazia tempo que não enfrentava as telonas, mas resolvi seguir o conselho de um de nossos Indigestos e voltar à ativa. De quebra, foram três filmes. Pela ordem: "Contatos de quarto grau" (Olatunde Osunsanimi), "Abraços Partidos" (Pedro Almodóvar) e "Avatar"(James Cameron). Deixarei o filme do espanhol de lado, acho que está um pouco desconexo em minha cabeça, talvez por não ter encontrado o Almodóvar da freneticidade de seus trabalhos anteriores, mas um filme mais sensível, lento e silencioso. Ficará para uma próxima.Vamos aos que sobraram. Neste post, falarei sobre os filmes de Osunsanimi e Cameron, pois acredito que possam nos dizer muito sobre as limitações e tendências tomadas pelo cinema contemporâneo.
Cameron, cria, através de sofisticados efeitos de computação gráfica e o investimento de U$500mi, Pandora, uma lua do planeta Polifemo, habitada pela também criada civilização Navi. Poderia aqui discorrer acerca das incongruências do filme: sobre o sempre heroi estadunidense, cujo maniqueísmo é extremo ao ser um tetraplégico que enfrenta um insensível capitalista que apenas que explorar Pandora e o chefe do exército que é tão mal que ao bombardear os "inocentes" Navis pede ao piloto do avião: "Vamos logo com isso que eu quero voltar para janta". Enfim, o roteiro é fraco, com discussões superficiais ancorada na "onda ambientalista" que assume o mundo, personagens ridículos e diálogos banais . Mas me recuso a dar ibope para essa discussão, até porque minha cisma contra o politicamente correto já me levara ao cinema preconceituado quanto a isso. Quem quiser ler mais sobre o conteúdo em si, leia a polêmica coluna escrita por Luiz Felipe Pondé na Folha de SP. O que me ficou à mente, entretanto, é a potencialidade dos efeitos visuais. É praticamente impossível não se sentir atraído pelo universo criado, pela riqueza de cada detalhe de Pandora e dos Navis. Se deixa a desejar no conteúdo, sobra em seus recursos técnicos. Um enredo completamente fantasmagórico, mas que, no cinema 3D, assume ares de realidade. Impressiona como nos satisfaz o sentimento de participar do cinema tridimensional como estar participando de uma quase-realidade, de tão otimizada a qualidade da imagem. O próprio título "Avatar" remete a uma representação do real, através de um mundo paralelo, virtual. Não duvido que, em breve, tenhamos outras formas sensoriais como o olfato ou o paladar, dentro da sala cinematográfica. O paradoxo de presenciar um filme, na minha opinião, ruim, mas, ao mesmo tempo, sair do cinema com a estranha sensação de que não teria graça mais assistir qualquer filme que não fosse 3D, me aporrinha as paredes da caxola.
"Contatos de quarto grau" também se apropria de nossa relação com a realidade para causar impactos no espectador. Este já é um filme mais bem feito, entreteu durante todo o tempo, eletrizante, sabe criar um ambiente de suspense assustador sem ser vulgar, valeu o ingresso. Trata-se de uma psicóloga, Abigail Tyler, que, após morte misteriosa do seu marido, também psicólogo, resolve dar sequência aos estudos do mesmo. Para isso, se manda para o Alaska, onde, para seu espanto, diversas pessoas, que sequer se conhecem, têm crises de insônia após sonhar com uma coruja branca, todas entre 2h e 3h da marugada. Então, a mulher recorre à hipnose para entender melhor o que se passa com os pacientes durante as noites de sono interrompido, e por aí vai. Mas o que inova mesmo é a utilização de áudio e vídeos reais gravados pela psicóloga durante as seções. Veja o Trailler abaixo para ter uma ideia.
Eu mesmo sou cético quanto a ET´s, OVNIs ou coisa que o valha, é um assunto que não me desperta tanto interesse, porém o filme me deu calafrios. Esses documentos são colocados em momentos estratégicos, nas situações mais apavoantes, mesclando com a atuação dos atores, e consegue cutucar o ceticismo racional com vara curta. Aquela coisa de "uma imagem vale mais que mil palavras" não vale só pro corno que pega no flagra. Se, quando sabemos que o filme é baseado em fatos reais já temos um elemento a mais na emoção do suspense, no "Contatos", além desse recurso, temos o vídeo e áudio do registro da pesquisa, o que amplifica ainda mais o medo.
Eu mesmo sou cético quanto a ET´s, OVNIs ou coisa que o valha, é um assunto que não me desperta tanto interesse, porém o filme me deu calafrios. Esses documentos são colocados em momentos estratégicos, nas situações mais apavoantes, mesclando com a atuação dos atores, e consegue cutucar o ceticismo racional com vara curta. Aquela coisa de "uma imagem vale mais que mil palavras" não vale só pro corno que pega no flagra. Se, quando sabemos que o filme é baseado em fatos reais já temos um elemento a mais na emoção do suspense, no "Contatos", além desse recurso, temos o vídeo e áudio do registro da pesquisa, o que amplifica ainda mais o medo.
Nessa instrumentalização do real para conquistar o espectador, apresentada de forma distinta por ambos filmes, temos o alicerce daqueles que ganham, ano a ano, peso no mercado da produção cinematográfica. A fantasiosidade performática do Avatar, ou do Crepúsculo, com vampiros que fazem cosquinhas em Anne Rice, por um lado. E a espetacularização do real (achavam que era só o Datena?) em filmes como "Contatos" ou o "Exorcismo de Emily Rose", por outro.
Ainda com medo de sonhar com corujas brancas e com raiva de ter pertido dez minutos do Corinthians e Palmeiras - o que me custou o gol do Jorge Henrique, melhor jogador do Brasil, na atualidade - para ver a guerrinha entre Navis e Colonizadores, saí das múltiplas seções do cinema com uma ideia fixa concluinte: vamos ao cinema para reencontrar nossa relação com o mundo, desafiando cada filme, para que ele supere ou corrobore aquilo que, de fato, acreditamos. Quando não acontece nem um nem outro, bem melhor o campeonato paulista, ainda mais se o Corinthians vencer...
Ainda com medo de sonhar com corujas brancas e com raiva de ter pertido dez minutos do Corinthians e Palmeiras - o que me custou o gol do Jorge Henrique, melhor jogador do Brasil, na atualidade - para ver a guerrinha entre Navis e Colonizadores, saí das múltiplas seções do cinema com uma ideia fixa concluinte: vamos ao cinema para reencontrar nossa relação com o mundo, desafiando cada filme, para que ele supere ou corrobore aquilo que, de fato, acreditamos. Quando não acontece nem um nem outro, bem melhor o campeonato paulista, ainda mais se o Corinthians vencer...
6 palpites:
Para mim - que raro vou ao cinema e não vi o os smurfs guerreiros do avatar - fico com a cuca matutando sobre esse trem de 3d me lembrando do "Admirável Mundo Novo" do Huxley que, em 1931, já previa muitas das perversidades desse negócio... li e reli faz uma cara... não lembro nem do nome do cinema... alguém aí bem que podia fazer a aproximação...
a cada dia me parece que o mundo está ainda mais adimirável e menos novo...
eu, do meu lado, to perdadendo progrssivamente minha capacidade de me admirar com as coisas.. tudo parece muito previsível...
ssssss mac
"to perdadendo progrssivamente minha capacidade de me admirar com as coisas.. tudo parece muito previsível..."
Ah, relaxa... a não ser que esteja torcendo pro Curintcha agora, as vezes em que te ouvia comentando algo, você pelo menos dava algumas boas tantas referências sobre como as coisas podem ser vistas, na música (ou melhor, no samba), na literatura, na história (ainda que econômica - "ainda" é só uma provocação barata). Paralelismos, quero dizer. Se você pensa não estar se surpreendendo, ou bancando essa pose prepotente de previsibilidade do mundo, quando fala sobre um evento, o explora de maneira com que ele nos surpreenda.
Comentário bizarro este meu, porque o seu comentário pode ser prepotente, mas fui muito puxa saco.
????
Ah, Thi, quer nota de rodapé pra tudo agora?! Que foi, foi por causa do Curintcha?! rs Reconheço que foi nada a ver o meu comentário, rs.
Mas deixa eu comentar uma coisa: putaqueopariu esse Contato de 4° Grau. Me mijei inteiro vendo, ainda bem que nao estava no cinema. E, olha, parece que nada é "real" no filme, a não ser o fato de que na cidade de Nome, no Alasca, desde os anos 60, dezenas de pessoas desaparecem misteirosamente, o resto é criação do diretor que no filme aparece entrevistando a tal psicóloga, dá uma olhada: http://www.examiner.com/x-22738-New-Haven-Movie-Examiner~y2009m9d5-The-real-story-behind-The-Fourth-Kind
Beijos
Retificando, tem razão, não cabe o meu comentário ao Peixe. Eu só queria criticar também a postura do Cameron, de quem dá uma puta volta pra nao trazer nada de novo. Performatismos, encenações, cópias que pouco ou nada acrescentam além do visual descolado, da linguagem do momento...
Hugão, eu é que não vou ficar usando publicamente vocês de analistas... façamos em particular... heheh
a provocação era pra ver se mais alguém tem essa sensação ou se é só chatice - provavelmente prepotente - minha...
aliás, meu mapa astral me diz que eu penso o que eu disse que penso por conta dos astros na hora do meu nascimento... como eu pensava isso antes de ler é provável que este negócio de mapa astral seja bom mesmo...
smac.
pêxe
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