
Com sua Hasselblad, Madoz pega os objetos comuns do cotidiano e alterna sua funcionalidade e sentido. Não é nonsense, tampouco ingênuo. Não apenas o contraste do preto e branco muito bem utilizados destaca o fotógrafo, mas especialmente o conteúdo de sua obra. Suas fotografias possuem um ar de ironia e provocação. Ao nos depararmos com as mesmas, é impossível não questionarmo-nos sobre a normalidade, ou melhor, sobre sua imposição. Quanto do que fazemos e dizemos acontecem apenas pelo


Inclusive, se você começou a ler esse mísero post por aqui - pra ver do que se trata o vídeo e se valia a pena ler esta coluna desde o início - faço-lhe um apelo para que assista, pelo menos os cinco primeiros minutos desta cena. Nela, duas famílias burguesas típicas da época do filme combinam um encontro. Quando Buñuel mostra a mesa, a surpresa é que invés de cadeiras, temos privadas e invés de refeição revistas. Durante a conversa, um dos homens divaga sobre o problema da superpopulação, como todas aquelas pessoas terão condição para "evacu
ar"- leia-se cagar. A conversa é interrompida pela garotinha, filha do casal, que diz "Mãe, estou com fome" e a mãe, constrangida, logo corrige a menina, dizendo para não usar palavras impróprias na mesa. Logo depois, um dos homens pede licença e pergunta baixinho à empregada "onde fica a sala de jantar", então, segue para um cômodo parecido com um banheiro, mas que invés de privada tem uma cadeira e invés de revista, comida e vinho. Ele senta e faz sua refeição. E por aí vai, não me estenderei (isso mesmo, estender é com "s" e extensão é com "x", obrigado pela correção Rita) porque só essa cena valeria um post inteiro. No filme, cujo título, segundo o próprio autor, é uma alusão à primeira frase do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx ("Um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo"), Buñuel critica veementemente o modo de vida burguês e a liberdade prometida pela sociedade de consumo, através justamente do trajeto normalidade-absurdo, mais ou menos o mesmo trajeto percorrido por Madoz.
E em ambos, guardados seus distintos contextos, saímos com a sensação de que o absurdo não é tão absurdo assim, ou, talvez, que a realidade, o cotidiano, o normal sejam também um grande devaneio. E é com este argumento que, antes que me questionem, fujo da rotulação de Madoz a alguma escola artística, mais fácil escolher um hospício.
Veja mais imagens de Chema Madoz em seu site oficial.


Veja mais imagens de Chema Madoz em seu site oficial.
3 palpites:
Adorei! Entrei no site do Chema para ver mais e com certeza vou pegar esse filme do Buñuel para assistir inteiro. Muito bom!
Boa, Thiago!
Vale mais do que a pena ver também O Anjo Exterminador, do mesmo Buñel.
demais ambos o filme e as fotos. aliás, me lembrem de mostrar pra vocês uma seção do Pasca chamada "200 Cartuns" do Caulos. Se parecem muito com essas fotos...
Smac
Peixe
ps: cadê o texto do hugão??? cadê o hugão????????????
Postar um comentário