quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Aaron Swartz e a máfia dos termômetros

. . Por Caio Moretto, com 1 commentário

Pouco se noticiou, na mídia tradicional brasileira, a morte do ativista Aaron Swartz, que teria supostamente se suicidado na semana que passou. Será desatenção? Para comprovar a ausência de publicações, utilizo uma ferramenta do próprio Aaron e busco seu nome em uma lista de pouco mais de 100 sites que acompanho diariamente, graças à tecnologia RSS, que ele ajudou a desenvolver quando tinha apenas 14 anos de idade. Em alguns minutos leio algumas poucas matérias interessantes de veículos alternativos e as repetitivas ocorrências do jornalismo de grande circulação que o programa me retorna, não por limitação da ferramenta, mas por falta de informações a serem coletadas.

Swartz desenvolveu diversas ferramentas que visam democratizar a web como o Watchdog, o Open Library e o Demand Progress (bem explicados no post do Rafael Zanatta, aqui). Porém, a maior polêmica que envolveu o sociólogo e ativista, aquela com a qual os leitores deste site devem estar mais familiarizados, talvez seja a perseguição da gigante empresa de artigos científicos JSTOR.

Resumidamente, Swartz teria baixado de um computador público do MIT, 4 milhões de artigos científicos, que, como indicam suas manifestações recentes (Aaron Swartz e o manifesto da Guerrilha Open Acces), seriam distribuídos gratuitamente na rede. Não foram. Após o início do processo Swartz recuou e devolveu todos os arquivos. A perseguição, porém, não parou e a promotoria indicou a condenação de Aaron a 35 anos de prisão e o pagamento de uma multa de 1 bilhão de dólares.

Outro programa menos conhecido do mesmo criador talvez interesse nosso leitor: o atlas de imagens. A ferramenta é simples. O usuário digita uma palavra e o programa retorna imagens encontradas em diversos sites de busca de diversos países. O objetivo (que Aaron explica neste vídeo) é demonstrar de forma visual como os filtros de busca não são neutros. Apesar de ser um pouco mais artístico que os outros projetos, o programa não deixa de ser mais um termômetro para evidenciar a falsa democracia da rede.

E qual será a utilidade dessas ferramentas de medição e de acesso à informação? “Termômetro não cura”, li esses dias em um título de matéria, que me chamou a atenção. A reportagem criticava o excesso de medidas e recursos governamentais utilizados para medir e diagnosticar o problema da educação e a carência de medidas efetivas para solucionar a questão. O título curioso não é, porém, uma verdade universal. Apontar uma contradição, por exemplo, é um passo imensurável no caminho de superá-la.

Imaginemos um número aleatório, por exemplo, 4 milhões de cientistas que acreditem nesse princípio e busquem, através de seus trabalhos, apontar diferentes problemas e investigar suas possíveis soluções. Para ter acesso aos termômetros criados por esses estudiosos o usuário deve pagar a uma empresa que monopoliza essas informações, digamos, a JSTOR. A ruína da nossa biblioteca de Alexandria não é o fogo, são os intermediários. Aaron apontou, dentre outros, esse problema.

Não extrapolarei a metáfora. Não sei se o termômetro faz parte do processo de cura ou não. A questão que Swartz nos coloca, no entanto, é que nem acesso aos termômetros nós temos. E se a simples denuncia da falta de acesso à informação pode ter um fim tão trágico como o de Aaron, talvez seja necessário darmos mais atenção a ela. Parece claro que há, aqui, algo que se pretende ocultar e que nenhum jornal comenta.  Será desatenção? Será por simples desatenção que tentam nos roubar a tinta vermelha, que tentam impedir o uso de qualquer medidor da enfermidade de nossos processos democráticos? Usando a medida de Geoge Orwell, lemos no caso ainda uma derradeira denuncia: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Uma lucrativa publicidade da máfia dos termômetros.


1 palpites:

Acho que, mais uma vez, tu monta um post cheio de informações que ninguém vai fazer na internet! Isso é uma coisa que bons comunicadores deveriam fazer em seus blogs - juntar informações, pois pouco sabem utilizar a net para buscá-las. Facilitar a busca é ajudar no acesso a informação. Talvez isso também fosse uma das coisas que Aaron estava buscando...

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