Pouco se noticiou, na mídia tradicional brasileira, a morte
do ativista Aaron Swartz, que teria supostamente se suicidado na semana que
passou. Será desatenção? Para comprovar a ausência de publicações, utilizo uma ferramenta do próprio
Aaron e busco seu nome em uma lista de pouco mais de 100 sites que acompanho
diariamente, graças à tecnologia RSS, que ele ajudou a desenvolver quando tinha
apenas 14 anos de idade. Em alguns minutos leio algumas poucas matérias interessantes de veículos alternativos e as repetitivas ocorrências do jornalismo de grande circulação que o programa me retorna, não por limitação da ferramenta, mas por falta de
informações a serem coletadas.
Swartz desenvolveu diversas ferramentas que visam
democratizar a web como o Watchdog, o Open Library e o Demand Progress (bem
explicados no post do Rafael Zanatta, aqui). Porém, a maior polêmica que
envolveu o sociólogo e ativista, aquela com a qual os leitores deste site devem
estar mais familiarizados, talvez seja a perseguição da gigante empresa de
artigos científicos JSTOR.
Resumidamente, Swartz teria baixado de um computador público
do MIT, 4 milhões de artigos científicos, que, como indicam suas manifestações
recentes (Aaron Swartz e o manifesto da Guerrilha Open Acces), seriam distribuídos
gratuitamente na rede. Não foram. Após o início do processo Swartz recuou e
devolveu todos os arquivos. A perseguição, porém, não parou e a promotoria indicou
a condenação de Aaron a 35 anos de prisão e o pagamento de uma multa de 1 bilhão
de dólares.
Outro programa menos conhecido do mesmo criador talvez
interesse nosso leitor: o atlas de imagens. A ferramenta é simples. O usuário
digita uma palavra e o programa retorna imagens encontradas em diversos sites de
busca de diversos países. O objetivo (que Aaron explica neste vídeo) é
demonstrar de forma visual como os filtros de busca não são neutros. Apesar de
ser um pouco mais artístico que os outros projetos, o programa não deixa de ser
mais um termômetro para evidenciar a falsa democracia da rede.
E qual será a utilidade dessas ferramentas de medição e de acesso à informação? “Termômetro não cura”, li esses dias em um título de matéria,
que me chamou a atenção. A reportagem criticava o excesso de medidas e recursos governamentais utilizados para medir e diagnosticar o problema da educação e a carência de
medidas efetivas para solucionar a questão. O título curioso não é, porém, uma
verdade universal. Apontar uma contradição, por exemplo, é um passo imensurável
no caminho de superá-la.
Imaginemos um número aleatório, por exemplo, 4 milhões de
cientistas que acreditem nesse princípio e busquem, através de seus trabalhos, apontar diferentes problemas e
investigar suas possíveis soluções. Para ter acesso aos termômetros criados por
esses estudiosos o usuário deve pagar a uma empresa que monopoliza essas
informações, digamos, a JSTOR. A ruína da nossa biblioteca de Alexandria não é
o fogo, são os intermediários. Aaron apontou, dentre outros, esse problema.
Não extrapolarei a metáfora. Não sei se o termômetro faz parte do processo de cura ou não.
A questão que Swartz nos coloca, no entanto, é que nem acesso aos termômetros nós
temos. E se a simples denuncia da falta de acesso à informação pode ter um fim
tão trágico como o de Aaron, talvez seja necessário darmos mais atenção a ela. Parece claro que
há, aqui, algo que se pretende ocultar e que nenhum jornal comenta. Será desatenção? Será por simples desatenção que tentam nos roubar
a tinta vermelha, que tentam impedir o uso de qualquer medidor da enfermidade de
nossos processos democráticos? Usando a medida de Geoge Orwell, lemos no caso ainda uma derradeira
denuncia: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique.
Todo o resto é publicidade”. Uma lucrativa publicidade da máfia dos
termômetros.
1 palpites:
Acho que, mais uma vez, tu monta um post cheio de informações que ninguém vai fazer na internet! Isso é uma coisa que bons comunicadores deveriam fazer em seus blogs - juntar informações, pois pouco sabem utilizar a net para buscá-las. Facilitar a busca é ajudar no acesso a informação. Talvez isso também fosse uma das coisas que Aaron estava buscando...
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