"Bem, você obviamente deve odiar a espiritualidade. Esta palavra normalmente se refere a alguém utilizando o mundo espiritual como rejunte para preencher uma falha em si próprio: por exemplo, um cara encalhado de cinquenta-e-poucos-anos, com o rosto parecendo uma moeda gasta, subitamente temendo a própria morte e que por conta disso se matricula em uma aula sobre deusas em uma uniesquina da vida. A espiritualidade não flui dessa maneira. Ela está cagando e andando para você. Estamos no fluxo dela, e mesmo que sonhemos com rodas d'água para controlar este fluxo, não há um porto seguro ao qual se ancorar. Na maior parte do tempo, ignoramos o fato de que rumamos ao local ao qual ela vai. Isto torna a nossa condição invisível para nós mesmos.
Em situações raras, nossa condição se faz visível. Nestes momentos, ficamos desamparados, e irresistivelmente atraídos. O Programa Apollo é um bom exemplo disso.
Todos pensavam que John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon estavam gastando quatro-e-meio porcento do orçamento federal estadounidense anualmente para provar que os Estados Unidos eram donos da Ciência.
Isso tudo é uma ficção.
O Programa Apollo foi uma demonstração elaborada de como mesmo o mais insípido entre nós está sob o jugo do espírito.
A NASA precisava de astronautas para botar uma bandeira na lua. Por razões óbvias, os astronautas eram do tipo mais confiável de homem que os EUA produzem: brancos, héteros, evangélicos caretas, da centro-direita, frutos da união entre ciência e exército. Cada um deles era o coração do coração do povão norte-americano.
Mas então eles foram atirados ao espaço, livrados da gravidade deste planeta, em direção a duzentos e cinquenta mil de quilômetros de vazio, para serem agarrados pela lua após três dias. Dezoito caras fizeram isso; doze deles foram mais a fundo, para descobrirem que poeira lunar tem cheiro de pólvora.
Cada um deles voltou inegavelmente mudado.
Os EUA mandaram os filhas-da-puta mais quadrados que conseguiu encontrar à lua, e a lua devolveu seres humanos. Neil Armstrong tornou-se professor, e depois fazendeiro. Alan Bean tornou-se pintor. Edgar Mitchell começou a acreditar em OVNIs, além de conseguir cristalizar, em texto, a experiência de ver seu próprio planeta de uma vez só:
'Você desenvolve instantaneamente uma consciência global, uma orientação coletiva, uma insatisfação intensa com a situação do mundo, e uma compulsão por fazer algo a respeito disso. Lá da lua, a política internacional parece muito mesquinha. Dá vontade de pegar um político pelas pelancas do pescoço, arrastá-lo duzentos e cinquenta mil quilômetros pra fora e dizer 'Olha isso aqui, seu filho-da-puta'.
(Fonte: People, 08 de Abril de 1974)"=============================================
Tradução livre deste texto para português, que levanta uma das contribuições mais curiosas que Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na lua e falecido célebre de ontem, trouxe à humanidade.
1 palpites:
...o problema é precisar ir pra lua para se indignar com o mundo!
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