Publicidade é a alma do negócio, diz o ditado popular, e nada é mais verdadeiro em política internacional. Não vamos confundir com propaganda, que tem um cunho muito mais de manipulação, e o pessoal confunde com “publicidade” de um jeito assustador. Mas hoje vamos falar de publicidade mesmo – ou melhor, da falta dela. Enquanto o noticiário internacional se esbalda com a guerra civil na Síria e o morno debate da eleição presidencial dos EUA, temos um monte de questões que passam como nota de rodapé (quando passam). Você sabia que Cuba está passando por uma epidemia de cólera? Ou que o Tribunal Penal Internacional (TPI) sentenciou pela primeira vez um condenado por crimes contra a humanidade? Ou que o Congo está se tornando uma nova Ruanda?
Essas duas últimas estão relacionadas. O tal condenado é Thomas Lubanga, um líder de milícia congolês que mandava crianças para a morte nos idos de 2002-2003. Foi o primeiro julgamento em que saiu uma sentença (de 30 anos), em que vítimas puderam testemunhar pessoalmente contra o réu, e o primeiro em que se conseguiu fazer uma acusação formal contra o uso de crianças-soldado. Como marco, uma vitória simbólica, mas muito pouco perto do que a realidade apresenta por lá. Na semana passada, muita gente ficou chocada com o relato de Marie Nzoli, que mostrou como a situação das mulheres é difícil na região, e que o espectro do conflito ainda paira por lá. Nessa semana começa uma reunião da União Africana em que o tema é justamente o crescimento desses conflitos, mas entre a discussão dos líderes na sala com ar condicionado e as camionetes com guerrilheiros fuzilando a população, estuprando as mulheres e roubando crianças, há um abismo.
Essas duas últimas estão relacionadas. O tal condenado é Thomas Lubanga, um líder de milícia congolês que mandava crianças para a morte nos idos de 2002-2003. Foi o primeiro julgamento em que saiu uma sentença (de 30 anos), em que vítimas puderam testemunhar pessoalmente contra o réu, e o primeiro em que se conseguiu fazer uma acusação formal contra o uso de crianças-soldado. Como marco, uma vitória simbólica, mas muito pouco perto do que a realidade apresenta por lá. Na semana passada, muita gente ficou chocada com o relato de Marie Nzoli, que mostrou como a situação das mulheres é difícil na região, e que o espectro do conflito ainda paira por lá. Nessa semana começa uma reunião da União Africana em que o tema é justamente o crescimento desses conflitos, mas entre a discussão dos líderes na sala com ar condicionado e as camionetes com guerrilheiros fuzilando a população, estuprando as mulheres e roubando crianças, há um abismo.
A questão é, por que esse tipo de notícia passa longe do noticiário convencional, espremido em 10 ou 20 segundos no jornal do almoço. Talvez seja para não chocar demais o espectador brasileiro, que já enfrenta desgraça demais no cotidiano, certo? Afinal, não tem como fazermos nada pra impedir esse tipo de massacre tão distante. É fácil julgar a mídia, dizer que não mostra por que não dá retorno, mas se formos pensar com frieza, realmente, por mais cruel que pareça, não há muito mesmo a fazer – a não ser que você seja um consumidor regular do mercado de diamantes, um dos motores desses conflitos, e resolva boicotar essa indústria diabólica, em qualquer lugar do mundo, mas não acho que seja o caso. O que podemos fazer? Denunciar, dar voz aos que não têm, e pressionar nossos próprios governantes. Mas, é pouco, e aqui entra o Tribunal Penal Internacional (TPI).
Não é nada animador saber que os responsáveis pela tragédia que se aproxima (ou já está acontecendo) vão ser julgados (se forem) apenas num futuro distante. Mas, essas primeiras vitórias do TPI são um recado aos violadores, de que já não estão 100% impunes, e uma esperança, ainda que pequena, de que no futuro seja uma instituição forte o suficiente para dissuadir esse tipo de massacre. Vai ser uma publicidade negativa danada, podem ter certeza, mas enquanto isso, o Congo e tantas outras nações em crise continuam no rodapé.
Não é nada animador saber que os responsáveis pela tragédia que se aproxima (ou já está acontecendo) vão ser julgados (se forem) apenas num futuro distante. Mas, essas primeiras vitórias do TPI são um recado aos violadores, de que já não estão 100% impunes, e uma esperança, ainda que pequena, de que no futuro seja uma instituição forte o suficiente para dissuadir esse tipo de massacre. Vai ser uma publicidade negativa danada, podem ter certeza, mas enquanto isso, o Congo e tantas outras nações em crise continuam no rodapé.
Álvaro Panazzolo Neto é mestrando em Relações Internacionais pela Unb e colaborador do Página Internacional.
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