Não é de hoje que se criticam as metrópoles. Baudelaire já o fazia com muita propriedade em Paris muito tempo atrás. Foi ele, inclusive, que cunhou o termo "flâneur", que em francês significa algo como "passeador", aquele que vaguei pela cidade a contemplá-la, sem rumo. E transformando a historia num disco riscado que insiste em reptir seus trechos é sempre ela, a cidade, o objeto de reflexões e disputas.
Não há sorrisos em São Paulo. Por trens e ônibus, os olhares fatigados, impotentes, quando não fechados em sono, poucas vezes deixam escapar um sorriso. A impessoalidade reina - cada um com seu sofrimento, no seu espaço. O bom-dia com sorriso entusiasta, que ando fazendo como provocação, assusta os funcionários acostumados a seguir rígidos protocolos gerenciais que não incluem tal expressão. E uma cidade sem bom-dias é uma cidade triste.
Mais jovem, quando passeava em São Paulo, gostava de tentar adivinhar onde as pessoas desceriam no metô. "Aquele japonês vai descer na Liberdade..Deve trabalhar em algum restaurante.." Mas trabalhando aqui, vejo que pouca graça tem a brincadeira. É muito fácil, pois no horário do rush, todos vão para o mesmo lugar: o próximo ônibus, o próximo trem, a próxima espera. Em uma palestra com um grande arquiteto, ele nos disse sobre o desafio de se fazer um arquitetura provocativa em uma cidade como São Paulo, onde a média de tempo que as pessoas levam para chegar ao trabalho é de 3h. Seguindo a risca o racicínio, são 6h diárias de transporte. Ou seja, correto mesmo seria a jornada de 2h diárias de trabalho para completar 40h semanais. Mas acho que essa lei não passaria na câmara.
Nos novos metrôs, não é mais o operador que narra as estações, colocaram a gravação de uma mulher de voz bonita que finge não estar cansada. Fico pensando no tédio do maquinista cujo tajeto são idas e vindas de linhas retas, como a esteira dos Tempos Modernos de Chaplin. Acelera... Breca... Acelera... Breca... Acelera... Opa, mais um corpo se jogou contra o trem... Breca... Acelera...
Antes de estar em São Paulo, adorava aquela máxima: quanto mais conheço os homens, mais gosto dos meus cachorros. Achava pessimista e provocativa. Mas quando vejo, por estatísticas, que a metrópole possui mais pet shops do que padaria, começo a me preocupar. É preciso ser humanista em São Paulo
Aliás, matuto cá dentro que diabos seria a política em São Paulo. No sentido original da palavra, política (politeia) significa a "prática da cidade(polis)". Agora entendo porque quando alguém fala algo que não entendemos, dizemos que está "falando grego". O termo está longe de ser viável. Seja para empresários enforcados em suas gravatas ou por Zumbis que vagueiam nos vagões feito zumbis, a cidade está longe de oferecer oportunidades. Os versos nas paredes do metrô parecem tentar resistir, provocar: pare, leiam... O mesmo o faz a pichação vândala e necessária no prédio do banco: "São Paulo, pare pra pensar". Em vão, aqui, parar é ser atropelado.
Sim, São Paulo tem diversidade cultural, riqueza gastronômicas, tecnologia, agito, salários elevados, museus, shoppings, grandes empreendimentos, mas por vezes a imagem que me vem, e não sai, à cabeça são de homens e mulheres. Talvez não tenhamos, ainda, conseguido interpretar muito bem o que Vinícius de Moraes quis dizer com "túmulo do samba".
De qualque forma, asssim como um peixe busca a água para respirar, é preciso encontrar, ou criar, em São Paulo - na ponta de cada spray, no buraco de cada muro, no poema em cada parede, no sorriso em cada bom-dia, na dor de cada passo - a resistência.
Não há sorrisos em São Paulo. Por trens e ônibus, os olhares fatigados, impotentes, quando não fechados em sono, poucas vezes deixam escapar um sorriso. A impessoalidade reina - cada um com seu sofrimento, no seu espaço. O bom-dia com sorriso entusiasta, que ando fazendo como provocação, assusta os funcionários acostumados a seguir rígidos protocolos gerenciais que não incluem tal expressão. E uma cidade sem bom-dias é uma cidade triste.
Mais jovem, quando passeava em São Paulo, gostava de tentar adivinhar onde as pessoas desceriam no metô. "Aquele japonês vai descer na Liberdade..Deve trabalhar em algum restaurante.." Mas trabalhando aqui, vejo que pouca graça tem a brincadeira. É muito fácil, pois no horário do rush, todos vão para o mesmo lugar: o próximo ônibus, o próximo trem, a próxima espera. Em uma palestra com um grande arquiteto, ele nos disse sobre o desafio de se fazer um arquitetura provocativa em uma cidade como São Paulo, onde a média de tempo que as pessoas levam para chegar ao trabalho é de 3h. Seguindo a risca o racicínio, são 6h diárias de transporte. Ou seja, correto mesmo seria a jornada de 2h diárias de trabalho para completar 40h semanais. Mas acho que essa lei não passaria na câmara.
Nos novos metrôs, não é mais o operador que narra as estações, colocaram a gravação de uma mulher de voz bonita que finge não estar cansada. Fico pensando no tédio do maquinista cujo tajeto são idas e vindas de linhas retas, como a esteira dos Tempos Modernos de Chaplin. Acelera... Breca... Acelera... Breca... Acelera... Opa, mais um corpo se jogou contra o trem... Breca... Acelera...
Antes de estar em São Paulo, adorava aquela máxima: quanto mais conheço os homens, mais gosto dos meus cachorros. Achava pessimista e provocativa. Mas quando vejo, por estatísticas, que a metrópole possui mais pet shops do que padaria, começo a me preocupar. É preciso ser humanista em São Paulo
Aliás, matuto cá dentro que diabos seria a política em São Paulo. No sentido original da palavra, política (politeia) significa a "prática da cidade(polis)". Agora entendo porque quando alguém fala algo que não entendemos, dizemos que está "falando grego". O termo está longe de ser viável. Seja para empresários enforcados em suas gravatas ou por Zumbis que vagueiam nos vagões feito zumbis, a cidade está longe de oferecer oportunidades. Os versos nas paredes do metrô parecem tentar resistir, provocar: pare, leiam... O mesmo o faz a pichação vândala e necessária no prédio do banco: "São Paulo, pare pra pensar". Em vão, aqui, parar é ser atropelado.
Sim, São Paulo tem diversidade cultural, riqueza gastronômicas, tecnologia, agito, salários elevados, museus, shoppings, grandes empreendimentos, mas por vezes a imagem que me vem, e não sai, à cabeça são de homens e mulheres. Talvez não tenhamos, ainda, conseguido interpretar muito bem o que Vinícius de Moraes quis dizer com "túmulo do samba".
De qualque forma, asssim como um peixe busca a água para respirar, é preciso encontrar, ou criar, em São Paulo - na ponta de cada spray, no buraco de cada muro, no poema em cada parede, no sorriso em cada bom-dia, na dor de cada passo - a resistência.