quarta-feira, 23 de junho de 2010

Equação dos Machos Perdidos

. . Por Thiago Aoki, com 1 commentário

Para ser alguém, há que se aproveitar da popularidade de outrém. Com isso, embalo na postagem anterior ("Zero, a Bandeira do Zeca", de nosso indigestíssimo Hugo Ciavatta) e também na enfadonha Copa do Mundo para entrar em outra canção numérica, um pouco mais óbvia e menos intertextual, "Regra Três".

Assim diz a letra da canção de Vinícius de Moraes e Toquinho:

Regra Três

Tantas você fez
Que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da Regra Três
Onde menos vale mais

Da Primeira vez
Ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raizes
No seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa
De perdoar

Tem sempre um dia
Em que a casa cai
Pois vai curtir
Seu deserto vai

Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza
Quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo
Que vai chorar


Neste caso, os próprios compositores já deixaram claro algumas vezes a origem do termo. Ingenuamente, acreditei por épocas, que se referisse a uma expressão algorítima, aquela famosa regrinha de três que forma uma equação, uma igualdade. Entretanto, em show que assisti de Toquinho no ano de 2005, o próprio desfez minha viagem matemática. Regra Três é oriunda do futebol. É a terceira parte da regra, que diz respeito às substituições no decorrer da partida. Assim, "abusar da Regra Três", no contexto da música, é abusar da substituição da mulher "titular" pela "reserva".

A mulher, traída, e o homem, a "curtir seu deserto" - uma das expressões mais tristes da MPB, apesar da ironia da canção - compõem uma letra de advertência e conselho por parte do eu lírico, que chega a recomendar ao amigo chifrador abandonado, que deixe "uma bebida por perto/porque você pode estar certo/ que vai chorar" (parênteses: reparem que, se em vez do Toquinho, esses versos fossem do Reginaldo Rossi, logo tava aí todo mundo dizendo que era brega e pastelão). Voltando ao assunto, o cenário nos remete ao novo livro do ótimo cronista futebolístico Xico Sá. O livro chama-se "Chabadabada - Aventuras e desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se acha". Segundo o autor, o livro traz conjunto de crônicas cujas matérias primas são conversas com garçons, filosofias de buteco, brigas caseiras de vizinhos, barracos entre casais, e outras. Em suas palavras, a ideia é "atualizar para 2010 uma situação que existe desde Adão e Eva".

No limite do politicamente incorreto e da ironia que vai do fino ao escrachado, passando pela brincadeira com grandes pensadores e filósofos, as crônicas de Xico Sá são deliciosas. Neste livro, o autor exercita seu lado pouco conhecido, de estar fora da estreita coluna de esportes da Folha de São Paulo, mas isso não preocupa. Tanto no jornal como no Cartão Verde, programa esportivo da TV Cultura do qual faz parte, Xico já extapolava as quatro linhas, chegando avidamente ao imaginário e cotidiano popular.

Onde entra o "Vida Noves fora Zero", você deve estar se perguntando? Bom, para responder a pergunta e mostrar um pouco mais do trabalho de Xico Sá, deixo-lhes, como lembrança, trecho de uma crônica dentre as tantas presentes em seu novo livro, espero que gostem. Fica também o convite ao ótimo blog do autor, intitulado provocatoriamente como "O Carapuceiro"..

Ah, esqueci de alertar: há quem o considere machista... Pura Blasfêmia e falta de amor, quer dizer, humor...
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A Arte de pedir em namoro
Xico Sá

É namoro ou amizade? Rolo, cacho, ensaio de amor, romance ou pura clandestinidade? “Qualé a sua, meu rapaz?!”, indaga a nobre gazela. E o homem do tempo nem chove nem molha. Só no mormaço, só na leseira das nuvens esparsas.

No tempo do amor líquido, para lembrar o título do ótimo livro de Zygmunt Bauman sobre a fragilidade dos encontros amorosos de hoje em dia, é difícil saber quando é namoro ou apenas um lero-lero, vida noves fora zero... (Clique aqui para ver a crônica na íntegra)

1 palpites:

Thiago,
lamentável seu primeiro parágrafo. "popularidade"?
"ai, como sou popular, nossa..."

Mas, belo texto! O Xico Sá é engraçado mesmo, não fica com meias palavras, não é polido com comentários. O Cartão Verde às vezes parece uma confusão (e é), só que é o mais divertido dos programas esportivos. E o humor do Xico não é tão formatadinho quanto o do Tadeu Schimidt, sei lá. Algumas crônicas dele são muito boas também!

Abraços

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