Depois do abacate tipicamente chileno, eu achei que já estava acostumado com esse troca-troca gastronômico de nacionalidades. Afinal já acumulava vastos conhecimentos na área: sei que o pão francês, assim como o copo americano, é bem nosso, e que aquele sushi empanado que chamamos de hot roll não tem nada de japonês. Mesmo assim, a Argentina conseguiu me impressionar.
Logo no primeiro dia em Buenos Aires descobri, com muito entusiasmo, que uma das comidas mais típicas da cidade é a Milanesa. Não sei se você já teve esse estalo, mas a expressão à milanesa significa que algo é feito da maneira como se faz em Milão, na Itália. Da mesma forma, o queijo parmesão e a expressão à parmegiana deveriam referir-se à cidade de Parma. Sei que em São Paulo chamamos a pizza com parmesão de Napolitana. Mas tudo bem. Afinal, nada impede o ingrediente de ser de uma região e a tradição de outra.
Então a milanesa é tipicamente argentina. Até aí, sem crise. Sei que houve uma forte imigração italiana na Argentina, tudo ainda poderia ser explicado. E, meio turistas meio antropólogos, ficamos sempre nos divertindo no limite entre o exótico e o mal-explicado. Fomos, então, jantar em uma magnífica rede chamada El Club de la Milanesa.
Mas, che, o futebol não é mais inglês. E já no nome os porteños deixavam claro que lutariam pela receita italiana. Numa faixa abaixo do logo, sem muitos dribles, estamparam que o novo nome do prato agora é Argentinadas. Faltou fair play? Faz parte do jogo, pensei.
No cardápio, porém, o item mais pedido desafiava qualquer lingüista ou geógrafo. Estava lá, debaixo de meus olhos, num controverso gol de mão, o prato mais pedido: a argetiníssima milanesa napolitana, um tenro bife à milanesa com molho vermelho e queijo. Uma delícia. Igualzinho ao parmegiana brasileiro, só que argentino milanês e napolitano.
Era tão boa que saí arrasado. Quis voltar cinco vezes, para não sair por baixo e passar uma mensagem. Mas éramos turistas. Respeitamos a casa e voltamos só três.
1 palpites:
caião, você já pensou em escrever em uma revista de gastronomia? você leva jeito pra coisa... (apesar de eu ter preferido o outro texto, mas deixa que o hugo comenta a fôrma, ou a forma... a mim tanto faz...)
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