A nossa relação não fugia do padrão visto por aí. Passamos e superamos juntos inúmeras fases: algumas eu te dando mais liberdade do que em outras. Se por um tempo eu te controlava e manipulava diariamente e por outro eu te dei liberdade ampla e irrestrita, atualmente havíamos encontrado o meio termo razoável em que você podia expressar sua essência sem afetar a minha. O importante era que sua presença me dava confiança e mesmo com os reveses nunca deixamos sucumbir a nossa parceria incondicional.
O tempo foi passando e você, aos poucos, me deixando. No começo eu negava e achava que era só uma fase, afinal não havia motivos para um fim assim tão repentino. Porém as suas ausências aumentavam: bastava ver as fotografias, cada vez menos aparecíamos juntos. Toda manhã, na minha cama ou no banho, apenas rastros do que você foi outrora.
Era uma questão de lógica. Mais do que isso, era uma norma: as pessoas mais experientes sempre me indicaram que nossa relação não seria eterna. Mesmo assim, contrariado dessa fatalidade, nutria em mim a esperança de que com a gente duraria mais. No fundo eu tinha a certeza de que conosco seria diferente assim como aqueles velhinhos que conseguem manter a relação firme até o último suspiro.
Infelizmente a escolha não era minha e a sua decisão de me abandonar era um fato consolidado. A minha vida não era mais igual, até atividades mais ordinárias não tinham a mesma graça sem você. Tive que mudar meu vestuário. Passei a sair menos e até mesmo me esconder por sua culpa. Sentia vergonha, confesso.
Ainda não sei se era covardia sua ou preocupação com a minha reação, mas ao invés de sair por completo da minha vida você foi progressivamente se ausentado na espera que eu tomasse a iniciativa. Hoje, finalmente determinado, rompi por definitivo as nossas amarras e mesmo que nostálgico posso dizer: adeus cabelo, foi bom enquanto durou, pelo menos agora sei que a calvície me acompanhará para sempre.
Adriano Godoy é mestrando em Antropologia pelo IFCH/UNICAMP, parceiro de boteco no Beco Livre, escrevendo também em Livres Escritas. Mas Adriano não tem dificuldade, como muitos de nós, de admitir: está careca!
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