Papai e mamãe que me desmintam, mas poucas vezes na vida alguém tem tanto poder como quando escolhe o nome de uma criança.
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Tem basicamente dois jeitos de dar nome: o primeiro é ver com que se parece o pequeno ser: coisa meiga, nome meigo; coisa bruta, nome maiúsculo: por isso é difícil conhecer uma pitibul chamada Lilica, por exemplo. Mas – cá entre nós – ainda bem! Imagine agora se essa prática fosse usada em humanos, a quantidade de “inhos” que pululariam dessa coisa chamada apelido por diminutivo! Céus, quantos “fofinhos” e coisas do tipo não apareceriam?? Cê sabe daquele tipo que teima em atribuir apelido às pessoas, naquelas do “ora, não é que parece mesmo??”, imagina então se se faz isso com o nome?? Fora que poucas coisas são mais absurdas que dizer que um recém-nascido “parece com” ou “tem mesmo uma cara de”... Ainda que não sejam todos iguais, vai, mas pra daí dizer que “já” se parecem com??
O segundo jeito também não é muito melhor, embora – é verdade – seja muito antigo. É quando você deseja que seu pimpolho atraia pelo nome determinada característica da qual você gosta. Aí então vai abrir aquele livro da saudosa Tia Cotinha, “Os Significados dos nomes”, procurando alguma luz, alguma força oculta que possa impregnar aquela frágil criancinha. Assim – o que é uma pena – você acaba chamando seu filho de qualquer nome da moda, sem se dar conta de que as características desejadas são socialmente desejadas, no fim das contas, justamente porque todo o mundo quer. Você não é o único que gostaria de ter um filho iluminado ou guerreiro.
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Por exemplo, não se tem registro das qualidades futebolísticas do camarada nascido no México em plena Copa de 70, e que recebeu de seu esperançoso papai a alcunha de Felix Carlos Piazza Everaldo Gerson Clodoaldo Pelé Rivelino Jair Tostão. Não, você não entendeu errado: a equipe do técnico Zagallo, então bicampeã mundial, deu nome a um sujeito. [Pelo menos é o que reza a lenda, e se for mentira... tanto melhor!] Exato, estes onze nomes, um depois do outro, compuseram a ópera de batismo do pobre menino. Mas – convenhamos – tudo leva a crer que o pimpolho não fez jus às expectativas do progenitor. Pelo menos não que eu saiba. Ainda bem, de novo! Se com um nome conseguíssemos atribuir características desejadas aos pequerruchos, onde a gente iria enfiar toda a grana que se injeta em programas de cientistas que querem criar brédpitis e giselebinchens?? E para colocá-los num catálogo, a preço tabelado – santa maria madalena! –, pra serem escolhidos pelos papais e mamães que não querem herdeiros feios??? Imagina a baita crise que não ia ser...
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Mas o Patrique – se você não lembra quem é o Patrique, não tem problema, porque ele não é importante pra nossa história, mas se você for curioso mesmo, releia a parte I das “Aventuras de Gardenal – o último homem livre” –, que não tem nada com isso, estava lá tentando escolher o nome da criatura em seu quintal. Primeiro alguém – acho que foi a Rô – sugeriu o nome Tobias, que era simples e na moda, afinal, tinha um bonitão de novela que se chamava Tobias. Aí veio a rapaziada – provavelmente o Babá – com a idéia de botar o nome "Bola de Fogo" (♫ ♫ piririm piririm piririm “sou eu Bola de Fogo, e o calor tá de matar...” ♫ ♫ lembra? o da “Atoladinha”?). Foi vetado pela ala radical do feminismo, a tradicionalista, claro, a mesma ala que acha que o fanque carioca é a mercantilização do corpo da mulher (a palavra é meio complicada mesmo, mas sabe como é essa gente intelectual). Só que aí a ala feminista prafrentex disse que o fanque, na verdade, é uma arma da libertação sexual da mulher que dá o corpo pra quem ela mesma quiser e portanto é uma tentativa de afirmação da mulher enquanto sujeita na sociedade opressora e blábláblá e bláblábli numa interminável (todas são) assembléia de gente chata.
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Por fim, ufa!, alguém – tanto faz quem – se deu conta de olhar praquela criaturinha ali e descobriu, com algum espanto, que, indiferente a qualquer tentativa de lhe botarem um rótulo, ele já tinha um nome. Não como um pedigrí, que vira-lata não é dado à frescura, mas, assim, como que seu. E talvez não seja fortuito o peculiar gosto por filmes de ação daquele aprendiz do Bruce Lí, o tal do Txãqui Nóris. Rola assim, como que uma identificação... um reconhecimento... sei lá, entende?
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O nome dele é Gardenal. E ninguém que o conheceu jamais duvidou que este nome lhe cai como uma luva. Há quem diga que foi a escolha do nome que fez com que ele ficasse assim, como dizer, desajustado. Francamente, acho que é prepotência demais. Para mim, Gardenal – que nasceu homem livre – escolheu seu próprio nome. O nome de um desajustado. O nome de alguém que não cabe exatamente no esquema. Alguém “esquisito” e que, portanto, bagunça a cabeça alheia. Alguém que não hesita em viver o que as outras pessoas acham loucura.
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Agora, quem duvidar, quem achar que foi o nome que deixou ele meio lelé: que o prove! Mas sem muito blábláblá, pois eu também não tenho muito saco pra isso, né?!
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Em tempo, vi que um leitor disse, na primeira parte dessas aventuras, que Gardenal, além de homem livre, é nietzscheniano... Pois então, meu caro, isso eu já não sei dizer, não. Inclusive já mo disseram que ele seria kantiano, hobbesiano, muçulmano e até marciano, veja só! Mas como para filosofia eu não tenho inclinação, e como também não é do meu feitio cometer exagero algum em qualquer prosa que seja, só posso afirmar que o camarada que pensa que é dono do Gardenal tem um gosto, assim, como eu poderia dizer... excêntrico – talvez ele mereça um série de textículos a serem publicados aqui, mas isso, definitivamente, não vem ao caso agora... – e embora tenha mesmo esses troço de filosofia germânica lá na biblioteca dele, eu nunca vi o Gardenal tentando lê-la, não! Nem o jornal que o pobre botava pro Gardenal se aliviar em cima este quis... Ele sempre foi mais chegado mesmo é num matinho, viu... Assim, mais natural, sabe... mais simples... Coisa de gente livre.
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Thiago Fernandes Franco é o Peixe, compete na ala dos leitores mais encrencas que se tem notícia.
Hugo Ciavatta, sim, contribuiu aqui e ali neste texto.
2 palpites:
Peixe, gostei muito do texto! Confesso que pouco vi do Hugo aqui e ali, acho meio incompatível vocês dois em forma e conteúdo, mas tudo bem...
Acho que devia rolar mais um texto seu, ou quem sabe uma parceria com os quadrinistas pra rolar "As aventuras de Gardenal contra os cachorros estupradores de Barão Geraldo na noite de natal". rsrsrs.. Você sabe do que to falando!
Mas tá bom demais, escreva mais, mais, mais, larga esse treco de doutorado...minha leitura agradece..
Abraços...
PS:Coincidência ou não, eis a palavrade verificação do google: "grdnl"
eu e o Hugo tamo tentando nos entender... hahaha temos jeitos bastante diferentes de escrevinhar (acho que mais na forma que no conteúdo, seguindo tua pista)... mas eu to achando divertido..
prefiro trampar em parceria do que sozinho, que dá preguiça... tenho uns trinta e cinco mil e duzentos textos que eu tenho vontade de escrever e não o faço...
uma hora vai aparecer esse "conto de natal", mas vamos adiar um pouco (quem sabe pro aniversário do fausto-messias). ainda não conversamos sobre a terceira parte... há sugestões?
enquanto o mistura não pagar pelos textos eu vou continuar me vendendo na tal de academia mesmo... que alguém tem que pagar o leitinho das crianças... hahaha
smac
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