Acordei sentindo falta. Sentindo falta da dose de coragem que continha o vinho dos poetas românticos de outrora. Do brilho profano dos olhos adolescentes refletidos no espelho de meu quarto. Do espasmo saltado à face das crianças que chutam bola diante da descoberta do movimento (será que se excitam por que sentem que podem controlar a direção da bola ou por não saberem em que local a redonda se aportará?).
O tempo, meticulosamente sádico, acordou preguiçoso, calorento e lento, como que a colocar agulhas em minha incompletude, intensificando a falta que sentia. Demorou a passar as horas. Por vezes, a raiva tomou conta e quase perdi o relógio de pulso ao jogá-lo contra a parede logo após constatar: o ponteiro dos minutos pouco havia girado.
Era o tempo lento ou a angústia apressada?
Coloquei devagar a ponta do pé para sentir a temperatura da água. Estava Quente. Um banho, talvez a solução. A água, feito enxurrada, escorria pelo corpo. Já não sabia se as gotas eram do chuveiro ou de meus olhos, importante era que tinham o mesmo destino: o ralo.
Abri a janela do quarto - as cortinas sufocavam - e libertei o sol pra dentro, junto com uma suave brisa quase divina a refrescar. Não resisti, saí de casa. Sentei no banco da praça da esquina e observei: brincavam com a bola dois garotos provocadoramente ingênuos e risonhos. Será que se excitam porque sentem que podem controlar a direção da bola ou por não saberem em que local a redonda se aportará? À pergunta, antes em parênteses, mas agora trazida à tona pela razão, nenhum autor que havia lido conseguira responder.
As crianças sorriem tão naturalmente quanto o axioma de a bola rolar na descida. Não há como não imitar o sorriso infantil, é quase um bocejo. Abri um sorriso discreto enquanto os meninos corriam ladeira abaixo disputando a pelota. Voltei para casa, escurecia.
Amanhã seria um outro dia, novas bolas atravessariam o caminho à espera do chute. Melhor mesmo fazer como as crianças.
Dormi sentindo falta, mas sorrindo, um sorriso ainda tímido.
O tempo, meticulosamente sádico, acordou preguiçoso, calorento e lento, como que a colocar agulhas em minha incompletude, intensificando a falta que sentia. Demorou a passar as horas. Por vezes, a raiva tomou conta e quase perdi o relógio de pulso ao jogá-lo contra a parede logo após constatar: o ponteiro dos minutos pouco havia girado.
Era o tempo lento ou a angústia apressada?
Coloquei devagar a ponta do pé para sentir a temperatura da água. Estava Quente. Um banho, talvez a solução. A água, feito enxurrada, escorria pelo corpo. Já não sabia se as gotas eram do chuveiro ou de meus olhos, importante era que tinham o mesmo destino: o ralo.
Abri a janela do quarto - as cortinas sufocavam - e libertei o sol pra dentro, junto com uma suave brisa quase divina a refrescar. Não resisti, saí de casa. Sentei no banco da praça da esquina e observei: brincavam com a bola dois garotos provocadoramente ingênuos e risonhos. Será que se excitam porque sentem que podem controlar a direção da bola ou por não saberem em que local a redonda se aportará? À pergunta, antes em parênteses, mas agora trazida à tona pela razão, nenhum autor que havia lido conseguira responder.
As crianças sorriem tão naturalmente quanto o axioma de a bola rolar na descida. Não há como não imitar o sorriso infantil, é quase um bocejo. Abri um sorriso discreto enquanto os meninos corriam ladeira abaixo disputando a pelota. Voltei para casa, escurecia.
Amanhã seria um outro dia, novas bolas atravessariam o caminho à espera do chute. Melhor mesmo fazer como as crianças.
Dormi sentindo falta, mas sorrindo, um sorriso ainda tímido.
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