quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ousemos tocar as Estrelas

. . Por Thiago Aoki, com 1 commentário

"A mente intuitiva é uma bênção sagrada e a mente racional é um servo fiel. 
Criámos uma sociedade que honra o servo e que esqueceu a bênção"
(Albert Einstein)

Caros amigos,

A maior opressão que vivemos hoje é a prevalência da razão sobre os sonhos. Ô mundinho ruim pra se sonhar. Percebo isso cada vez que escuto expressões como “meu sonho é passar no mestrado”, “sonho com aquela promoção no meu emprego todo dia” ou “estamos realizando o sonho da casa própria”.

Vejam, tudo isso é muito, mas muito, muitíssimo importante na vida como a concebemos. Porém, meus amigos, sonho não tem matéria, sonho deveria ser o inatingível, a exceção, o fabuloso, o sublime... Não apenas mais um parafuso de uma peça da engrenagem dessa grande máquina.

Fico pensando há quanto tempo deixamos de ousar em nossos sonhos, de querer tocar as estrelas... Provavelmente lá pela segunda ou terceira série, quando nos disseram – como se isso fosse a mais pura verdade! – que ela seria apenas uma “grande e luminosa esfera de plasma, mantida íntegra pela gravidade”. E caso duvidemos, lá estão, na retaguarda, wikipedias, earths, maps, tradutors, e outros tutores para nos explicar. Isso mesmo, em algum momento, as estrelas - companheiras dos poetas, guias dos marinheiros que se arriscavam pelo mar, confidentes de todos aqueles que algum dia sentiram-se sozinhos – transformaram-se em uma “grande e luminosa esfera de plasma, mantida íntegra pela gravidade”.  Para mim qualquer teoria social ou filosófica deveria começar respondendo o porquê que em algum momento as estrelas se transformaram em uma mera “grande e luminosa esfera de plasma, mantida íntegra pela gravidade”.  

Mas fato é que estão matando nossas dúvidas, e isso é gravíssimo, pois um mundo sem dúvidas é um mundo chato, onde para tudo já se tem uma verdade, um jeito certo, uma história certa a ser contada, um caminho de mão única.

Por exemplo, não basta comer, é preciso lavar as mãos comsabonete líquido e álcool gel antes da refeição, cumprir uma Dieta de 2000kcal diárias, com 30 mastigações por vez antes de engolir. Ah, importante: dentadas espaçadase tranquilas com intervalos de 20 segundos. E água apenas após as refeições.

Até para limpar a bunda já inventaram a forma correta! Não, não é brincadeira, nem um exagero do desabafo deste que vos escreve. Aconteceu: racionalizaram o cocô. Se você duvida, veja o vídeo abaixo, vindo de nossa maior emissora televisiva.



Assustador, não é? Aliás, falando em vídeo, hoje mesmo pesquisei o termo “dieta” no youtube e encontrei 729.000 vídeos sobre o assunto. Quando pesquisei por “poesia”, foram localizados 403.000. Quase metade! Isso não é inconcebível para vocês? 

Mas o que mais me intriga é como uma sociedade com tanto jeito certo e medida certa pra tudo consegue ser tão doentia e paranoica? Como consegue ter a indústria farmacêutica como um dos setores mais rentáveis da economia e descobrir tantas novas bactérias e vírus?  Como tantas síndromes e tanta tarja preta?

Talvez simplesmente porque uma sociedade sem sonhos, ou com tantas limitações para rabiscá-lo, é uma sociedade doente. E não se enganem, legar ao trabalho e consumo a responsabilidade de alimentar nossa subjetividade só fará de nós seres mais patológicos.

Melhor deixar esse caminho para a arte, para as estrelas e para as demais brechas dessa engrenagem toda.

Ousemos tocar as Estrelas!

1 palpites:

Comentário em poesia.
Para muitos, infelizmente, perder os sonhos é o caminho natural das coisas...
Anônima Lais


As pombas

Raimundo Correia


Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

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