(um texto confuso sobre esse momento confuso)
- Eu tenho medo… Eu tenho medo…
Assim dizia a atriz global lixo humano Regina Duarte. Isso foi em 2002 na campanha do Serra contra o Lula. Medo do Lula fazer um governo que interferisse na propriedade de acumuladores como ela que roubam do povo pra encher o cu de dinheiro. Coisa que nem de longe aconteceu até agora.
Eu poderia dizer hoje: “Tenho medo, tenho medo…”, mas não. Estou adorando o atual momento. Se foda onde vai dar – e ninguém é mãe Diná, nem o mais brilhante analista liberal do canal a cabo que seu tio venera e nem o mais brilhante analista marxista daquela universidade federal ou estadual que seu primo venera; ninguém sabe onde vai dar essa porra – mas só de sair dessa pasmacera de pacto social da Hipocrilândia fico com tesão.
Mas os fascistas bláblábláblá… os comunistas bláblábláblá… os partidos, a Dilma, o Feliciano, o Cabral, o Alckmin, os vândalos, os corruptos, os fiadaputa bláblábláblábláblá… Sempre vem alguém com um medo diferente dizer alguma groselha. Mas daí penso. Medo de que? Se tem medo, tem algo a perder, né não? Ou num é não? Diz aí, Jabor! Diz aí, Mano Brown!
Eu acho que um problema que pode acontecer – e por isso eu poderia dizer “tenho medo! tenho medo!”, mas não é medo, porque o imprevisível do que está por vir me deixa excitado, já disse – é do grupo que ascender num novo poder que poderá vir ser mais um grupo moralista que vai agir em interesse próprio sem pensar que todos os seres humanos são poços de complexidade e não existe um sistema perfeito de pessoas idôneas a ser seguido. Essa é a burrice de qualquer organização que poderá vir. (Ó eu otimista achando que algo vai mudar…)
Entendeu? Acho que não expliquei direito. Se liga nos entre aspas abaixo:
“Fora Feliciano!!! Feliciano fascista!! Evangélicos raça escrota!!”
“Fora partidos!! Oportunistas de merda!!”
“Vândalos!! Sem vandalismo!!”
“Deus, nos guie num caminho de paz e fim da corrupção…”
“Vai Neymar!!”
Sim. Todas as cenas acima existiram por esses dias atrás. Esse é a nossa nação varonil hoje.
E aí? Você é o bom e o outro é o ruim, não é isso mesmo? Hein? Hein? Mas me explica seu primo evangélico. Explica sua vó que gosta de ver novela. Me explica seu tio filiado àquele partido político que defende a estatização de tudo. Como é que vai ser já qui u qui é é u qui tá?…
É, minha filha. O poder tão logo que você imagina pode estar nas suas mãos. E até hoje na história dessa nossa Hipocrilândia só usaram o poder pra oprimir, violentar, subjugar, ensinar, lucrar. Percebam o ensinar no meio disso tudo. Porque ensinar é coisa necessária pra qualquer estado se perpetuar. A ordem necessita do ensino. Então essa sua verdade – tão nobre e pura – diferente da verdade do outro – tão podre e corrupta – pode ser a verdade perpetuada em instituições de ensino pra logo criarmos novas elites, novos opressores e novos oprimidos.
Poderia dizer: “Tenho medo dos que se julgam puros, bons, honestos, trabalhadores, e querem um sistema contra os podres, maus, desonestos, vagabundos…”, mas não tenho não. To mais é dando risada disso tudo. Mas atente, leitor, que pode vir coisa muito escrota poraí, sob o nome que vier… Mais escrota do que já tá? Difícil, hein? Já que somos um país em guerra desde a invasão dos portugueses, com mais mortos que todas as guerras declaradas no mundo. Inclusive as mortes em Ribeirão Preto, Belo Horizonte e Rio de Janeiro que já somam mais de dez corpos e tem a ver com as novas manifestações.
- Então tu és mais um relativistinha de merda, seu Joãozinho?
Craro que não. Defendo a ampliação de direitos. Defendo as assembléias populares. Moradia para todos, terra pra todos, Passe Livre em tudo quanto é transporte, canais livres de TV pra qualquer um que quiser ter a sua, até rango como direito de fato, já que temos tecnologia suficiente pra fazer tudo isso. Mas sem essa de querer trancar gente em jaula por ser pior que você. Sem esse moralismo do trabalho que tanto direita quanto esquerda valorizam… Sem essa coisa do “eu sou lindo, ele é feio”.
Pessoas buscam o conforto. Esse é o caminho trilhado pela maioria das pessoas. Querem suas vidinhas, seus casamentos, seus filhos, seus bens de consumo, e a forma como organizamos o sistema nega isso pra maioria das pessoas pra dar privilégios para poucos. Por isso ampliar os direitos é importante. Não porque o trabalhador é bunito e o burguês é feio. Ou o pobre é nobre; o rico é lixo. Não me venham com essa de pureza. A maldade, o sadismo (e o masoquismo, seu irmão siames), a podridão, a ambição, a inveja, a exclusão, tão todos aí. Tão em todas etnias, classes e gêneros.
Podemos mudar o sistema radicalmente mas essas coisas listadas acima vão continuar. Não me venham com utopias de pureza porque isso pode dar em merda com certeza. Em violência, mortes, encarceramentos.
- Mas então por que tu chamou a Regina Duarte de lixo humano no começo do texto?
É pra agora – no fim do texto – dizer que eu e você também somos lixos humanos. Mas eu – ao contrário dela – não tenho propriedade nenhuma, moro de favor, não tenho emprego fixo (vulgo vagabundo) e quero que a Regina perca todos seus privilégios (vulgo propriedades) pra que tenha apenas direitos. Assim como eu e você e todos os seres vivos mais. Que todos tenhamos direitos, independente da vida que levamos. Mas sem essa de moralismo, sem essa de pureza, sem essa de querer punir o outro, sem essa de ser um novo estado. Ninguém deve pagar nem pela vida mais vadia. Todos temos carne, osso, sangue. Todos sofremos, choramos, sentimos prazer e dor. Todos somos isso aí que chamamos de humanos. Complexos. Lindos. Feios. Bons. Maus. E etcétara.
Que venha o novo. Tomara que não seja a repetição do velho. (Ó eu otimista de novo)
___________________________________________________________________________________
1 palpites:
http://www.youtube.com/watch?v=DYkwUUfQwA8
O bom e velho "Novo".
Êi-la, cavalaria do sarcasmo - nossa arma favorita.
Postar um comentário