Durou muito pouco o meu tênis Coca-Cola. Mal teve tempo de amaciá. Já não aperta mais. Meu pé torto e desajeitado deu os seus jeito de estorá ele. Nos memo lugar de sempre. Nos memo calo. Nas mema joanete. Meus tênis sempre arrebenta na sola dum jeito que tem que í pros lixo. De um jeito que num dianta nem tentá remendá. Fura tudo. Gasta tudo. Lixo.
Quando eu era guri inventaro de usá um troço caro que chamava silverteipe. Dizia que remendava tênis. Os meu nunca. Meu pé arrebenta ele dum jeito que não dá nem pra remendá. E eu só uso tênis mais barato que silverteipe. Num dá pra gastar mais no remendo que no tênis, né? O silverteipe prolonga a agonia do tênis, mais ele já tá condenado. Caio nessa não.
Parece que esse troço de silverteipe (arguém inda usa isso?) era coisa de esqueitista cabeludo, como já foi certa veiz um sabido amigo meu o tal de André Lopes. Ex-esqueitista e ex-cabeludo. Sabido e amigo meu ele continua seno. Grazadeus. Tão sabido que tudo as veiz em que começa sê bem-sucedido nos trabaio e armam prele uma promoção e aumento salarial, e bônus e celular com computador e internet de grátis; ele pede demissão. Já feiz isso umas pá de veiz. André Lopes sabe que nesses tar de capitalismo os bem-sucedido são tudo uns bando de fodido que toma remedinho pra durmí e remedinho pa cordá. Nesse mundão aí é mió sê livre que sê bem-sucedido. Parece que não dá pra sê os dois não, viu moça?
André Lopes tá em Cuba, vendo umas praia e uns tar di socialismo pra vê se inspira a estudá um pouco pra mór de consegui um emprego de pocas hora num lugar cum praia. Como eu disse, meu amigo André Lopes é sábio, socialismo com praia deve de sê bem mais legal.
Tênis da Coca-Cola eu não quero mais não. Machucô meu pé. Tinha a sola dura. Durou pouco. Uma bós di tênis. Eu gostaria que a Coca-Cola continuasse existindo lá no socialismo. A bebida. O tênis não. O tênis é uma bosta. A bebida é jóia. Diz que é boa pra desentupí pia. Eu gosto de tomá pra acompanhá umas comida, pra botá uns açúca pra drento despois do futibol e pra curá ressaca. E mias minina ia ficar tudo tristi si no socialismo não tivé Coca-Cola. Elas gosta. Diz que faiz mar. E u qui qui num faiz? Umas pá de coisa da hora diz que faiz mar. Devi di fazê memo. I daí? Si for pra ficá com esse argumento di vó eu fico com a minha bisa, que era muito mais esperta: tudo faiz mar si zagerado. Pode tomá um golinho de Coca-Cola às veiz sim, fia... pode tomá, que num tem pobrema. Mas num zagera não, viu, fia?
Dias desses eu vi o Marcos respondeno uns chato que impricava cos zapatista qui tomava Coca-Cola. Gosto muito do Marcos. Otro sabido. E tem uns zóio bonito que só veno. Gostei muito da entrevista quele deu. Uma aula. Ele não falou bem da Coca-Cola, não. Falou mal de quem imprica só ca Coca-Cola. Por que num imprica co as otra marca? Por que num imprica cos banco? Por que não imprica co'esse mundão véio sem portêra em que manda em nóis tudo? Bora impricá, aí, ô tigrada. Mai impricância tem que ser deis de da raiz. O resto é picuinha. E picuinha é cois di quem tem carinho. Mai dá uma zoiada lá na aula que o Marcos deu. [Perta no linque ali em cima, ó]. Uma aula. De oratória, de humor. Aula de vida.
Comos tar zapatistas anda dando aí pra quem quisé vê. E tudo sem gritar. Essa gente aí gós do silênço. Gente sabida. Se for pra abrir a boca que seja pra falá argo mió qui o silênço. Eles tão tentano arrumá um mó di vivê menos pió do que essa merda aí que mistura bebida cum tênis e remedinho e mais um monte de porcaria. Tentano vivê mais paricido qui nem sempre vivero antes dos homi capitalista chegá lá pra enchê o saco e expulsá eles lá das terra deles. Parece que não gostam muito dos zapatista por aí, não. Pareci que os tar capitalista aí têm medo di qui as pessoa acredite que é possíve vivê uma vida mió que essa merda que tá tendo por aí. Eles não deve de pensá que que essa tar vida aí é tão boa, não. Têm que obrigar os otro a gostar dela! Tamém, remedinho pra acordar, remedinho pra dormir.... Uma merda só. Parece que tem quem gosta, mas eu num cheguei a conhecê não. Nem os rico gosta... nem os rico.
Dizem que correr descarço é mió purque os bicho-homem correu descarço uns milhar di ano. [Ou seria milhões? Sei lá. Pergunta pro Henrique que ele tá estudando esses troço aí de pré-história pra ver se entende a gente]. Mas também não dá pra ser tão conservador assim, né, nego? Tem umas coisa boa que fizeram nessas úrtimas centena de ano. Coca-Cola, por exemplo. Pra bebê. Pra corrê não. Pra corrê é uma bosta. Duro paca cete. Pra jogar bola eu até que gosto de ir descalço, quando o chão é de grama. Mas eu sou jogador de quadra. E na quadra o tênis é mió. As verdade nossa têm que sê pensada veiz sim vez não de acordo com as circunstânça, né não? Quem acha que tem uma resposta simples num deve di tê entendido nem a pregunta.
Num sei se é porque nos acostumaro qüela, mas pra num gostá de Coca-Cola é difícil. Só conheci o Felipe, outro sabido amigo meu que pede demissão e foge de aumento. Ele num toma Coca-Cola não. Ele toma só leite. Mas do jeito que andam maltratando nossos leite e ponhando água, e soda e mais um monte de otras porcaria nele eu desconfio que leite deve de tá fazendo mais mal que Coca-Cola. Como diria o Prata (o pai do ídolo do editor – se eu não falar dele ele fica de biquinho – SMAC editorzinho lindo!) no Brasil a única coisa transparente é o leite. Tá certo o Prata. Quem não tá muito certo é o Felipe. Parece que deram uma promoção, um celular, um computador e uma gravata pra ele e ele teve que aceitá. Coitado. O leite deve di tá fazendo mar pras idéia dele. E olha quele mora na praia. Mas não no socialismo. Ainda. Ele vai gostar do socialismo com praia. Certeza. O Felipe anda mar das idéia mais é fera!
Quando eu escrevinhei o primeiro texto sobre o tênis da Coca-Cola que eu ganhei [bota o linque aqui, ô editor] eu falei que o tal do capitalismo tava gonizando. E que apostava que meu pé durava mais. Andaro duvidando. Muita coisa mudou nesses menos de ano. Tem alguém aí quinda duvida que esse tar de capitalismo aí tá estorando por tudo os lado e arrebentando a sola que nem meu tênis? Esse trem gastou, galera. Furou tudo. Gastou tudo. E vai pro lixo logo logo.
Inda vai tê gente tentando remendá com silverteipe. Vão gastá mais de remendo que na coisa. Iguar esses empréstimo di banco. Talvez prolongue a agonia, mas já tá tudo condenado. Caio nessa não.
Continuo andano de à pé por aí, engolindo meus sapo, cantando meus pagode e jogando a minha bola. De tênis novo. Porque certo tava – como sempre – o meu amigo André Lopes. O tênis da Coca-Cola, além de tudo, era uma bosta pra jogá bola, que no fundo no fundo mesmo é o que eu gosto de fazê pra ficá cum as idéia mais jóinha.
Saudações anti-capitalistas a todos nóis que tamos no mesmo barco. Tá afundando. Mais quem disse que a gente não pode nadá e pegá uns jacaré pra mór curtí um sol?
Smac
Peixe é Thiago Fernandes Franco, pentelho de carteirinha no Mistura Indigesta.
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