VÍDEO: MURILO CAMPANHA CONTA ITATINGA

O psicanalista Murilo Campanha fala sobre Itatinga, um dos maiores bairros de prostituição da América Latina, onde ele tem seu consultório.

O nadador

Uma crônica de Hugo Ciavatta.

Ainda que as bolachas falassem

Crônica de Fábio Accardo sobre infância e imaginação

Ousemos tocar estrelas

Uma reflexão de Thiago Aoki.

Entre o amarelo e o vermelho

Uma crônica de Hugo Ciavatta

O homem cordial vinhedense

A classe média vai ao barbeiro. Uma crônica de Caio Moretto.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O que vi nesses últimos dias - Sobre as manifestações pelo país

. . Por Thiago Aoki, com 3 comentários



Mas se através de tudo corre a esperança, então a coisa é atingida. No entanto a esperança não é para amanhã. A esperança é este instante. Precisa-se dar outro nome a certo tipo de esperança porque esta palavra significa sobretudo espera. A esperança é já. Deve haver uma palavra que signifique o que quero dizer. (Clarice Lispector)

Estranho esses últimos dias.

Vi pessoas discutindo estratégias de luta no café da manhã, política de mobilidade urbana no almoço e emendas constitucionais durante o jantar. Uma campeonato internacional no Brasil, é verdade, mas este ficou no máximo para o cafezinho entre as refeições.

Vi pela primeira vez reivindicações que não são apenas contra algo, mas por algo. Vi o congresso aprovando coisas que todos queriam à toque de caixa, consensos imediatos entre situação e oposição, como se quisessem em alguns dias acabar com séculos de distanciamento do resto do país. Vi lideranças se reunindo, marqueteiros se martelando, bandeiras sem saber quem as poderia defender.

Vi a mídia olhando-se no espelho, não gostando do que via, mas nada que apavorasse tanto como quando olhava pela janela e via a multidão dizendo que o povo não é bobo. Teve cronistas especializados em verdades absolutas voltando atrás, emissoras se justificando, termos que mudaram e o apoio às manifestações, agora democráticas. Um dicionário de antônimos em menos de uma semana, que contou ainda com dois garotos bailando jornalistas e coronéis no programa de TV.

Vi gente de verde amarelo dizendo coisas absurdas sobre o Brasil. Militantes de vermelho que não aceitaram gente diferenciada no protesto. Pessoas aprendendo política na prática, que tinham interesse e nunca souberam que podia ser tão legal esse treco. E no meio disso tudo, vi muitos que pareciam nada ter a perder, esses que vi, mas não identifiquei, tinham pedras nas mãos e os rostos escondidos, dava pra ver apenas os olhos. O que traziam esses olhares? Ainda me pergunto sem respostas.

Só sei que eu vi o Caveirão da polícia recuar e uma tropa da cavalaria fugindo de uma multidão.

Vi ainda gente ser demitida por posicionamentos políticos, um rapaz morrer caindo da ponte, uma gari enfartar com o gás, repórter tomando tiro de borracha no olho, chacinas na periferia, bombas lançadas de helicópteros contra a multidão, queimaduras de terceiro grau. Não, a barbárie não triunfou, ela apenas se expôs.

Mas também vi amigos criando, quase que por necessidade visceral. Inventando poesias, músicas, crônicas, quadrinhos, teorizando às pressas, como se dissessem, “eu também não sei o que será que será”. Alguns até se tornaram referências nas redes sociais. E na efervescência de ideias e produções despertas dentro cada um, uma alegria, ainda que contida, em pensar que a ação coletiva – adormecida há tanto tempo no colo de nosso ceticismo – poderia ser possível.

E talvez por isso, ou por algum motivo que ainda não consegui colocar em palavras, entre as frestas da fumaça do gás lacrimogêneo eu vi nesses últimos dias a esperança, nebulosamente, aparecer.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

SEIS NOTÍCIAS DA FOLHA SOBRE A PM QUE PODERIAM SER DA DITADURA

. . Por Caio Moretto, com 0 comentários

Em texto anterior tentei demonstrar que o problema da violência da PM não está unicamente na índole do policial por trás da farda, mas no próprio sistema de funcionamento militar da instituição, incompatível com nosso sistema democrático. Ocorreu-me, porém, que seria interessante mostrar exemplos de atos da PM consensualmente anti-democráticos. Para evitar acusações de manipulação de dados baseadas na fonte da informação, reuni seis notícias apenas da Folha de S.Paulo que relatam algumas ações da PM ocorridas nos últimos dias de manifestação que poderiam facilmente ser confundidas com notícias de uma ditadura.

(Clique com o botão direito no endereço e selecione "abrir link em janela anônima" para acessar o conteúdo)

1 - PRISÃO POR AVERIGUAÇÃO

2 - CENSURA DE IMAGENS OBRIGANDO MANIFESTANTES E REPÓRTERES A APAGAR ARQUIVOS

3 - APREENSÃO DE LIVRO EM CASA DE SUSPEITO PARA JUSTIFICAR PRISÃO POR PERFIL SUBVERSIVO

4 - TIRO DE BORRACHA NO OLHO DE PROFISSIONAL COBRINDO A MANIFESTAÇÃO

5 - OMISSÃO DE SOCORRO E TIROS CONTRA QUEM TENTAVA SOCORRER JOVEM FERIDO

6 - ASSASSINATO DE INOCENTES

Fora essas que a Folha revelou, temos visto diversas outras acusações contra ações da PM que não têm saído nos jornais, como abuso de manifestantes mulheres por parte de policiais, a instauração do toque de recolher em Belo Horizonte, fechamento do espaço aéreo durante manifestações para impedir fotos jornalísticas que possibilitem contagem mais precisa do número de participantes, bombas de gás lacrimogêneo em ambientes fechados e dentro de carros, tiros contra pessoas que estavam em suas residências apenas filmando as manifestações, policiais atuando sem identificação e outras que circulam pelas redes sociais por meio de denúncias e vídeos gravados por manifestantes.

Todas essas são notícias sobre a PM que circularam em apenas duas semanas de manifestações. Podemos seguir acreditando no discurso de que são abusos isolados e culpando os PMs que cumpriram as ordens ou podemos nos colocar seriamente a discussão sobre a coerência de termos uma polícia militar em um regime democrático e aproveitar esse período para democratizar e desmilitarizar nossa polícia.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A PM e o equilíbrio de poderes

. . Por Caio Moretto, com 1 commentário

Vejo pessoas falando muito de equilíbrio de poderes após a ideia de constituinte. Que bom! Mas vamos manter a coerência e falar também do equilíbrio de poderes quando a Polícia Militar cria o pânico e mata antes de julgar. Quem foi juiz, legislador e executor? Não vejo ninguém falando de equilíbrio de poderes contra a PM.

Falar pela desmilitarização da polícia é respeitar o homem e a mulher por trás da farda, pois não há possibilidade de humanização do profissional nessa lógica militar. O direito militar funciona na lógica dos fins, não se preocupa com a legitimidade dos meios. Se um PM descumpre uma ordem injusta não há nada que a população possa fazer para que pague quem deu a ordem e não quem se recusou a cumpri-la, porque o que diz se a ordem foi boa ou não, pela lógica militar, é se foi alcançada ou não sua finalidade (que não é proteger o cidadão, e sim à ordem, deixemos de ingenuidade). Desmilitarizar a polícia é dar ao policial a garantia de que ele não precisará cumprir ordens injustas, que é o mínimo de garantia que uma pessoa precisa ter para trabalhar de forma digna. Desmilitarizar a polícia é estender aos policiais os direitos democráticos que já conquistamos.

A mídia incentiva a ação da PM contra o vandalismo como se isso fosse defender a democracia, mas a PM não se submete às nossas leis civis, a essa que chamamos de Constituição e que tantos têm falado em proteger após essa ideia de constituinte. Se vamos falar de Estado democrático de direito não temos que incluir a polícia nessa lógica? A gente vai comprar o discurso da mídia e fingir que não viu que o "vândalo" que deu o pontapé inicial para começar a invasão do Congresso era fuzileiro infiltrado? Que não vê as chacinas no Rio? A prisão para averiguação?

Se quisermos (e aqui me incluo como cristão) falar de não violência, não podemos ver a PM como exceção. Quem traça essa linha? Se não adotarmos uma postura crítica acabaremos defendendo o opressor achando que está defendendo a democracia. Que democracia é essa em que o poder militar assume todos os poderes e não se submete a leis criadas pelo povo?

Não vai ter golpe nenhum porque não precisa: vivemos em uma guerra civil não declarada. Quando Martin Luther King apontava as vitórias do movimento não violento tinha uma que era especialmente significativa: trazer para a luz do dia e para o centro da cidade a violência que é cometida à noite na periferia. É isso que eu tenho visto.

Se o objetivo é a democracia, não é necessário que a polícia se submeta às leis democráticas?

domingo, 16 de junho de 2013

Editorial: o Mistura Indigesta e o vandalismo do mundo

. . Por Mistura Indigesta, com 1 commentário


O Mistura Indigesta nunca teve um editorial, porque editorial é coisa de mídia grande, organizada, com CNPJ, não de um grupo de amigos com quatro ou cinco postagens mensais.


E também porque achamos que é pretensão querer dizer pro leitor a opinião de um coletivo, para influenciá-lo ou coisa assim. Nossa opinião está em tudo que escrevemos, nas notícias que postamos. É fácil saber, não precisamos forjar uma imparcialidade, ela não existe em lugar algum, até quem está neutro toma um partido.


Mas tem alguns momentos de nossa história, muito ímpares, em que a coceira bate, e é preciso coçar, mesmo que as unhas estejam afiadas e sangre um pouquinho a pele, sabe? Talvez um desses momentos tenha sido no dia 13/06, quando, pasmos, assistimos às imagens que todos viram da repressão desproporcional, descabida, entre outros dês, da polícia de vários lugares do país.

Nós aqui do blog, somos chatos, classe médias, temos graduação em ciências sociais. Pouco usamos ônibus. Mas talvez a partir desse dia, não seja mais de ônibus que estejamos falando. De repente, a gente percebe que o preço do ônibus, as quarenta e quatro horas de trabalho, a o massacre do Pinheirinho, as ocupações pelo mundo, da marcha das vadias, do cara lá que engana o patrão pra jogar bola, são todas várias faces de uma mesma coisa, de um mundo que por vários motivos nos cerceia. Você deve saber, “no primeiro dia eles vêm roubam uma flor”, “quem não se mexe não sente as amarras”, “os poderosos podem matar até três rosas” e etc.

Em algum momento esse monte de citação que, por algum motivo, estavam dentro do armário, testados pelo tempo, mais próximos à prateleira de literatura do que de história, voltaram a fazer sentido. E mesmo sem usarmos ônibus, gostamos e precisamos dizer que, mais do que contra a repressão policial, somos à favor das ocupações das ruas, dos engarrafamentos gerados, dos questionamentos dessa tal democracia e de seus pilares (governo, mídia, etc) que ruem a cada barulho de bomba contra um ativista desarmado só porque ele não é padrão FIFA, porque não grita baixinho, porque insiste em incomodar, porque atrapalha o trânsito, porque picha, porque não se conforma com uma ordem e conjunto de regras que lhe foram dadas.

Esse editorial é principalmente um mea-culpa de nós mesmos, que não escrevemos editoriais e adoramos uma contradição. Talvez uma forma de dizer foi mal, alguns de nós não fomos às ocupações, nos envolvemos em movimentos coletivos como se envolve a classe média, sim, desencantada mas criticamente. Em meio a nosso ceticismo nos conformamos em ser contra, porque o mundo que nos deram, a gente não quer. Porque o não também constrói um mundo, mesmo que a gente sequer imagine como ele seja. Estamos dizendo basta como quem porta vinagre na avenida, como quem usa caneta bic ao invés de gás lacrimogênio e bala de borracha, como quem acredita que quebra quebra é também juntar um monte de letrinhas e não deixá-las apenas sobre o papel ou na tela do computador, porém, levando tudo isso para encarar a violência, a miséria e o descaso cotidiano.

Hoje temos algo para ser a favor, então, o mínimo que fazemos com esse editorial, ou o que quer que seja, é divulgar: Dia 17 de Junho, às 17 horas, lá em São Paulo, Dia 20 de Junho, às 17h no Largo do Rosário, em Campinas, ou onde você estiver.

Finalizamos com alguns textos nossos, individuais, mas também de cada um de nós, por que não?

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Felizes aqueles que dormem o sono dos acríticos,

Que desdenham as súplicas
Ouvidas na subida da rua
Por vozes vivas e lúcidas
Que sonham dormir em paz.

Felizes aqueles que dormem o sono dos acríticos,

Que travam o feixe e fecham o vidro frente ao farol
Sem saber quem é aquele que sua sob o sol.

Felizes aqueles que dormem o sono dos acríticos,

Pois deles são o reino da apatia.
Lá são amigos da moral,
Têm a mulher que querem
Com o dinheiro que pagarão.

E empoderados pela boa conduta

Decretam como equívoco
O mais puro infantil sorriso
E a mais indignada lágrima adulta.

Felizes aqueles que dormem o sono dos acríticos

Por não terem em seus olhos submissos
As lentes lamuriosas da subversão
Para que sigam versando verdades sensatas
Em poemas métricos e rigorosos
Do jornal trágico de cada dia. 

Felizes aqueles que dormem o sono dos acríticos.


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Quando me cobram pela liberdade que é inata, você acha natural,

Mas quando a cobro de volta sou vândalo no seu jornal.
Não se faça de besta como se fosse atrocidade:
Não se trata de justificar a violência,
Mas de deslegitimar a desigualdade.
Você sabe bem quem está certo e quem está errado.
Violência é parar uma avenida ou nascer paralisado?

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ontem, mais ou menos às 18h, eu sai do computador, não liguei a tv, não vi nada do que aconteceu "em tempo real" em São Paulo. hoje de manhã, tentei, apenas tentei passar pela avalanche de informação, imagens, textos, discussões, vídeos, tudo que apareceu.
eu não quero viver nesse mundo.

é terrível estar em um "lugar público" para ler essas coisas e se sentir constrangido até pra chorar.

sinto muita vontade de estar em São Paulo, queria estar. sinto muita raiva, sinto meu estômago no céu da boca. ninguém acerta vários olhos por acaso. eles miravam nos rostos. ninguém acerta tanto jornalista por acaso. eles começaram uma guerra, e faz tempo, não é de ontem. só que não entenderam que não podem mais se esconder. não é uma questão de passagem de ônibus.

eles não vestem apenas fardas, eles não são apenas de partidos, eles não são só a grande mídia, eles, eles, eles... eles não estão só do lado de lá. eles, eles, eles, eles...

chega.




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