Desde agosto do ano passado que não escrevo um post. Tenho me perguntado por que. O mesmo tempo em que tenho feito de muitas indagações sobre a vida, muitas perguntas, muitos por ques. Acho que estou fazendo as perguntas erradas. Algumas delas não me levam a nada. Outras ao imobilismo. Talvez por isso não tenha conseguido produzir nada.
Nesse tempo, li Diálogo e Conflito. O livro é um diálogo franco entre três educadores populares: Sérgio Guimarães, Moacir Gadotti e Paulo Freire. De leitura clara e dinâmica, o livro aborda o tema do diálogo. Conta um pouco da trajetória dos três “personagens” e se propõem a responder as perguntas de pessoas que passaram pelas diversas palestras, aulas e oficinas em que estiveram presentes Gadotti e Freire. Sérgio é o entrevistador, mas também está na conversa, ou melhor, no diálogo. Num momento do livro, Paulo se diz inferiorizado, frustado, pois Gadotti disse a ele uma vez que havia guardado todas as perguntas que fizeram para ele até hoje. Paulo disse que as deixava em cima da mesa. Se sentiu envergonhado e desrespeitoso. Resolveram então fazer a conversa, e o livro, para tentar trabalhar com essas perguntas guardadas por Gadotti. O livro parte dessas perguntas, mas não se colocam a respondê-las. Dizem que "no fundo, a própria maneira de fazer a pergunta já continha uma resposta." Como assim?
Essa afirmação ficou na minha cabeça e a todo momento tenho me dado conta disso. As perguntas que todos fazemos já trazem consigo a resposta prévia. Será? Creio que, principalmente nós, homens e mulheres da academia, da Universidade, não fomos educados para fazer perguntas. Aprendemos durante 4 anos (ou mais) a questionar, criticar, a desconstruir, se colocar, a constrager. Nunca aprendemos a verdadeiramente dialogar. O ponto não está na pergunta. Não é a mensagem mas quem a faz. As pessoas parecem que não sabem, e não querem, dialogar. Os questionamentos aparentam, em sua maioria, veleidades de poder. As criticas são o argumento da punição. Você está errado, ponto. Não se desconstrói para ir a outro lugar. É simplesmente desmoronar o cabra. A mensagem, aqui a pergunta, é ferramente de poder. Não faz dialogar, só mostra o caminho do qual se parte para te oprimir.
Isso porque penso que uma pergunta só é diálogo quando constrói. Quando leva tanto o emissor quanto ao receptor, por intermédio da mensagem (aula básica de comunicação – não passei disso!), a um diálogo que supera o momento anterior. Um pouco do que Paulo dizia, da denúncia e anúncio, da educação popular. Talvez em Marx, da tese, antítese e sintese. Não sei. Sei que a pergunta não deve ser estática, não deve imobilizar, não é para criticar, para desconstruir. Se pergunta para ir além, para saber, para superar as barreiras que emissor e receptor tem.
Talvez as perguntas nos levem a verdade. A verdade que cada um busca, que estamos buscando. As nossas verdades. Logicomix, outro livro que acabei de ler, conta um pouco da história de Bertrand Russel em busca da verdade. Russel foi um grande pensador que, por meio da matemática e filosofia, queria cegar aos limites da possibilidade da razão para, a partir da lógica, chegar a verdade. O livro é uma história em quadrinhos divertida. História e ficção se reúnem para nos contar o caminho tortuoso do nosso (anti-)herói em “busca da verdade”. Um pouco de história da matemática, dos seus fundamentos. Mas também um pouco da história das perguntas. E nos perguntamos, ele então conseguiu chegar na “verdade”? O que acham?
Sei que tudo isso tem me levado a concordar com meu amigo que escreveu um texto neste mesmo blog, a um tempo atrás: no fundo, as únicas perguntas realmente importantes são aquelas que podem ser formuladas por uma criança.
Vou alá! (do português voilá!)
Ps: agora me pergunto – quanto tempo mais vou levar para escrever um novo post? (nessa pergunta já estão incluídas as informações que fazia tempo que não escrevia, que há uma necessidade e uma cobrança em escrever um post, que vou necessariamente levar um tempo, etc, etc, blá-blá-blá....talvez essa não seja a pergunta certa. Essa me leva a um imobilismo. Alguém pode me ajudar?)
3 palpites:
Por que você não expõe suas perguntas em formas de texto?
(aqui está contido que você pensa os textos como respostas)
smac
É meio blasé dizer essas coisas, mas vamos lá. Vesti o jaleco. Me direciono aos segundo, terceiro e quarto parágrafos. Lévi-Strauss, no Tristes Trópicos, apesar de sacanear o leitor em vários momentos, fala umas coisas sobre a conformação da USP, e por que não estender o argumento ao modelo de universidade brasileira, de como então se lidava com o formação acadêmica e a produção intelectual em São Paulo. Basicamente, pelo que lembro, como uma forma mais de manter status, prestígio, e de alguma forma, hoje de adquirir acensão social. Num país profundamente desigual, é bom lembrar, um dos mais desiguais do mundo, apesar, dizem, de haver sinais de que a coisa tá mudando, a universidade tem sido “trampolim”, se não pra maioria da nossa classe média, pra parcela dessa tal classe C, média baixa, subir um cadinho. Infelizmente, sei lá, parece totalmente tosco, mas o lance de afirmar-se socialmente, nesse vazio imenso de status furado, parece que para a nossa merreca metida a intelectualóide se fazer válida, reconhecida, reproduz uma lógica de desmerecimento do argumento alheio em qualquer construção de conhecimento. Enfim, eu preferia dizer que isso é fruto de uma má formação democrática, e já que é pra chutar o balde da bobice, parece que é falta de senso republicano. Não sei mesmo. Lembro com muita admiração, e simancol, exemplos de colegas de fora, estrangeiros, dizendo assistir ao encontro de intelectuais, pesquisadores, tanto em “campo”, como entre seus “pares”, e que mantinham um mesmo procedimento, de respeito e cordialidade – é vago, né. Mas, um exemplo que me vem é, por exemplo, da Kehl com o MST – por mais que possamos discordar do movimento, nos últimos anos especialmente (http://www.mariaritakehl.psc.br/conteudo.php?id=252#topo). E de dois pesquisadores que se encontraram para um seminário. Amigos, passaram dias juntos, até o momento em que se sentaram para discutir seus temas, e então só faltou um xingar a mãe do outro, tal a desconstrução do argumento feita por um e outro, mas, no final, depois da mesa, saíram pra tomar um porre. Eu nunca vi ou ouvi algo disto assim no Brasil, só mantêm aparências e gestos protocolares, especialmente com jogos de poder e com o Poder estabelecido. É bom lembrar, também, que com isso não estou dizendo que o que acontece mais aqui não acontece “lá fora”, de e com Poder, muito pelo contrário. Dizem, há sinais de que a coisa tem melhorado por aqui. Espero que sim. O que nos falta, pelo que parece, é o tal senso democrático. Mas, por favor, não confunda isso com o “democracia representativa” e sistema de poder, é outra coisa.
Gostei do texto! Não apenas da ideia da "discussão", mas especialmente da maneira um tanto quanto divertida desse enigma.
E a resposta do Hugo também foi bem boa.
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