terça-feira, 2 de agosto de 2011

Coluna do Leitor - As aventuras de Gardenal, o último homem livre - primeira parte

. . Por Mistura Indigesta, com 11 comentários

Pensa num cachorrinho bem fofinho, com carinha de coitadinho que te dá vontade de fazer bilú-bilú e levar pra dormir na sua cama. Assim, uma Fifi. Agora pensa num cachorro grandalhão, bobão, bem desastrado; mas que, no fim das contas, quando destrói todos os mil e trinta e nove bibelôs que você ostentava na sua sala de visitas, te olha com aquela cara de “eu sou assim... veja só...” e você acaba pensando lá com os seus botões: “Puxa vida, até que ele não é tão mal... debaixo de 58 quilos de destruição mora um coração bom...” Assim, tipo o Marley. Pensou? Agora esquece. Abandone todos os seus modelos preconcebidos pra tentar compreender o quê, afinal de contas, é o Gardenal.
Gardenal é um vira-lata assalsichado totalmente avesso a qualquer tipo de frescura; daqueles que andam com quadril balançando para um lado e para o outro empinando o nariz de modo a ostentar um ar que teima em escapulir a todas as tuas tentativas de compreender o que, afinal, se passa naquela cabeça ímpar. Jamais tente dar uma ordem ou impor a sua vontade sobre a dele. Não que ele seja totalmente hostil ou desobediente, mas contra todas as idéias que você julga ser as do bom-senso, Gardenal, com o seu gosto todo peculiar, faz o que quer, na hora em que quer. Ou melhor: dá um jeito de, no final, fazer o que quer; te sacaneando a ti, que te ilude de lhe querer o melhor. Não por filhadaputagem, ou por um particular desejo de te sacanear. Não. Não é nada pessoal contratigo. É que ele é do tipo independente mesmo. Que ri por último e, portanto, ri melhor. Mas por que, afinal de contas... por que diabos ele deveria respeitar logo a tua autoridade? – ou a de qualquer outro, claro!
Gardenal foi criado por Patrique, que jura por deus – contra todas as evidências – que ele é que é o dono do Gardenal; e que o Gardenal não é o dono dele.
Patrique gostava de levá-lo para passear na sua escola e eu mesmo – que morei com eles – costumava – contra todas as regras do bom-senso – levar o dito cujo lá para aquelas bandas. Ou era ele que me levava?
E foi numa dessas que o pequeno apareceu mais sua parceira Pintadinha num dia de Pagode do Souza. Cheirando à carniça. É claro que o Patrique ralhou, mas vai lá você explicar para um espírito livre que o feitio dele não condiz com os nossos, escravos que somos do gosto alheio? Rá! O bichinho cismou de deitar e rolar na bendita todos os dias. Patrique, coitado, morria de vergonha e tratou de acordar todos os dias cedinho cedinho e – em vez de, como de costume, ter mais tempo para fazer nada – dar banhos caprichadíssimos no pobre do Gardenal e deixá-lo com o delicioso e refrescante cheiro do sabão de pedra. Cortou as unhas, penteou os pelos, escovou os dentes; deixou nosso bravo Gardenal com aquela carinhazinha de cachorrinho de madame. Acabou-se o seu amor-próprio. Acabou-se a sua identidade de macho-vira-lata.
Aí é que ele se enfezou e tratou de ir lá rolar na carniça. De novo. De novo. E de novo. Até que Patrique desistisse.
Vai dizer: até tu que é mais besta ia!
Ou não ia?


Thiago Fernandes Franco é o Peixe, um leitor Chá Verde, pois contra qualquer "mistura indigesta" nessa vida, já dizia vovó-Peixe: chazim de boldo, meu filho!

Hugo Ciavatta, o mesmo de sempre (ou não!), contribuiu pontualmente com o texto, fez sugestões e algumas críticas em leitura ao lado de Peixe, este por isso pediu (sic) gentilmente (sic) sua parceria. E antes que alguém o condene por fazer "séries", logo avisa, a ideia é do Peixe.

11 palpites:

Gostei do texto à quatro patas. Me identifiquei com os trouxas (o Patrique e o Peixe, no caso) sem ficar com raiva do Gardenal. Personagem com esse dom merece uma série e meia, Hugão. Mandem bala. Abraços!

Só a introdução que eu dispensava.

A introdução é ranço do Peixe comigo, causado pelo texto da Luci.. é a negação dele do meu texto!

Dá-lhe Gardenal!!!
A introdução é boa...
Eu odeio o Marley!!!
Porra peixe... massa demais...

Depois de Billi The Killer e Lucy in the Sky, o terceiro cachorrote homenageado no MI.

O texto é ótimo, como de praxe, Peixe, que nos honra com sua presença...

Beijos...

Ah, eu também acho ótimo, um blog cujo nome faz imaginar ser sobre cozinha&culinária ... com textos sobre cachorro: que ótimo, que ótimo... :P

:P

É, se fôssemos coreanos faria mais sentido essa relação entre cachorro e culinária...

Há ainda que se citar o querido filho dessa união Gardenal e Pintadinha...

Gostei!

massa, li até o final mas confesso que minha leitura foi atrapalhada pelos tempos verbais e outras coisas... tipo: "contradigo"...
acho que dá pra melhorar o ritmo, tipo li 3 vezes essa passagem antes de continuar: "Ou melhor: dá um jeito de, no final, fazer o que quer; te sacaneando a ti, que te ilude de lhe querer o melhor."

mas é akele negócio, é um fator estético e narrativo que dependem do gosto de cada um...

como eu tô de ressaca, talvez isso atrapalhe a minha análise, ou não...

mas a história da quadrinho heim?...

fica ae o desafio...

Gardenal com pitada de Nietzsche: uma mistura interessante.
Parabéns, espero os próximos capítulos.

Opa! Muito bom o texto Peixe!
Pena não ter conhecido o Gardenal e sua companheira.
Parte II por favor!!

Abração!

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