terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quem tem medo do Wikileaks?

. . Por Thiago Aoki, com 1 commentário

Julian Assange, australiano fundador do Wikileaks, é a bola da vez e ninguém consegue defini-lo.

Na grande mídia, revistas e jornais se contorcem ao tentar julgá-lo. Ora santo, por gerar furos que todos gostariam de ter dentro do que se entende por jornalismo; ora demônio porque, no fundo, a contestação e liberdade de expressão de Assange vai em sentido contrário ao conservadorismo político dos donos dos jornais.

A esquerda, que não encontrou em nenhum grande autor termo para alcunhá-lo, acaba por incorporar parte das ideias de Assange, ainda tímida e forçando esdrúxulas ligações com Marx, Trotsky, com o movimento comunista transnacional, ou que quer que seja. A direita está dividida. Enquanto alguns deleitam-se por gafes da política externa brasileira e latinoamericana serem trazidas a público, parte dela se revolta com a irresponsabilidade moral do jovem.

O incômodo é tanto que parte dos republicanos estadunidense não aceitam tamanha humilhação e defende a condenação à morte para o "ciberterrorista", "ciberativista", ou simplesmente vagabundo. Até a Interpol já criou fatos e manteve preso o rapaz sob a acusação de (pasmem!) transar sem camisinha. Seguindo a lógica, deveria então indiciar boa parte dos cânones da igeja católica. Aliás, não duvido que, se o Wikileaks anunciasse ter documentos do Vaticano, até o Papa viria a público condená-lo por não usar preservativos.



Assange, com as decorrentes contradições dos discursos dos mais distintos atores sociais diante dos furos do Wikileaks, conseguiu, mais que Nelson Rodrigues, mostrar que, no topo da pirâmide de poder do mundo, todos os faraós têm teto de vidro. O jovem não é um louco ingênuo. Prova disso foi a inteligência que teve em revelar documentos de Dilma após as eleições. Assange, que já possuía os documentos, poderia ter caído na tentação da fama e ser protagonista em uma virada histórica de José Serra, mas teve sabedoria política para não o fazer. Outro exemplo de noção política é o de sempre, em seus discursos, esquivar-se do personalismo e colocar o Wikileaks como uma organização maior que ele, com mais pessoas que lutam pelo ideal de um mundo verdadeiramente livre. Força esta demonstrada por Hackers que se unem em ações pró-wikileaks.

Um impulso corre os dedos que teclam essas letras para nominá-lo como fundador de um novo movimento, independente, organizado e de cunho anárquico. Não o farei. Apenas posso afirmar que sua imponência é uma lição a todos os que se consideram portadores de ideais revolucionários, e deixam de lado o novo, colocando tudo o que surge como modismo e alienação. Assange domina e subverte a onda de tecnologias, redes sociais e indústria cultural com um ambicioso projeto, de difícil contenção.

Que o poder, seu e dos demais, não sucumba estes que esculacham os poderosos..




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Em tempo:

1) Com os diversos ataques hacker aos quais a wikileaks.org vem sofrendo, quem organiza e distribui as notícias do site referentes ao Brasil para a mídia brasileira é Natália Viana, jornalista independente. Ótimas mãos.

2) Veja a resposta, mais uma vez lúcida, de Assange ao pronunciamento de Lula.

1 palpites:

Eu tenho medo do Wikileaks...

A chance de Assange se tornar um contra revolucionário aparelhado pela classe média é bem maior do que desmascarar poderosos...

Logo cairá a máscara dele e vocês que estão tão entusiasmados se decepcionaráo;.;

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