sábado, 18 de dezembro de 2010

Coluna do Leitor - Luzes sombras e cores

. . Por Mistura Indigesta, com 3 comentários

Tenho cá minhas dúvidas se um dia a comunicação entre duas pessoas pode vir ser transparente e cristalina: tudo o que é dito de um lado é compreendido do outro, e eventuais falhas no entendimento logo sanados. Se acaso for possível tal nível de esclarecimento, quero distância.

Em geral, vemos os mal-entendidos sempre de maneira negativa, quase que a origem dos males do mundo - ou ao menos das relações humanas. Não discordo que eles podem acarretar muito desgaste e conseqüências desagradáveis, porém julgo tais conseqüências antes frutos de nossas dificuldades para o diálogo do que do mal-entendido mesmo.

Um mal-entendido pode ser uma oportunidade para um encontro franco com outra pessoa - assim como consigo mesmo, uma vez que pode deixar evidentes certos preconceitos nossos muito ínfimos, mas não menos presentes. Pode ser a chance de uma nova e repentina idéia; a abertura para o inesperado que o contato transparente não deixaria: se tudo é sabido, por que arriscar? No que arriscar?

Meu elogio das sombras - na comunicação, inclusive - é algo recente, tem três anos. Já precisei me vigiar mais para tentar manter um certo equilíbrio entre luzes e sombras - e não jogar luz sobre tudo, como desejo em minha herança iluminista. Hoje já não tenho esse ímpeto luz luz luz e chego, eventualmente, até a perder a medida: semana passada achei que fora cristalino, mas a luminosidade do que eu dissera ficara bem aquém do que eu julgara. O que era para ser sabido, pré-combinado, sem sobressaltos, tranqüilo, num sopro se tumultuou e se desfez ganhando surpreendentes cores inusitados contornos outros significados diferentes perspectivas novas possibilidades - se serão predominantemente positivas ou negativas, ainda não sei, e isso tem também sua graça (da qual faz parte certa angústia).

Voltei para casa perplexo, como ainda estou: como pode da sombra tantas cores? E como pôde eu um dia querer só luz?

Sombras, por favor!

Daniel Gorte-Dalmoro é um chato, um cara que diz que quer trabalhar, mas demonstra mais empenho em fugir de. Enquanto isso tromba com japonesas de um metro e meio, mas sem sucesso escreve textos como este.

3 palpites:

Depois do texto sobre as bandas covers, no link, para o qual torci o nariz vivamente, fiquei contente quando li este texto.

Uma frase que se ouve em muitos contextos diferentes, mas que a mim soava horrorosamente me veio quando terminei de ler o texto acima.

"Deixa eu te esclarecer", ou derivados.

Não é por resistência a minha própria ignorância que digo isso, porque, oras, é sempre bom aprender, tomar conhecimento de algo, mas é que a aura de presunção e arrogância que tem a necessidade própria de "esclarecimento" ao Outro , genericamente, de novo, em diferentes contextos, desde uma sala de aula, reuniões, seminários, congressos, bate-papos descontraídos sobre futebol-política-religião, a relacionamentos, sem hierarquiza-los, que fique claro, não me "desce".

Quando Adorno e Horkheimer escreveram a "Dialética do Esclarecimento", defendiam que, aquilo que era pra ser a racionalidade que levaria ao desenvolvimento, ao contrário, chegariam à escuridão e à barbárie. Dalmoro dá um passo a frente e lembra também o contrário: da sombra, tantas cores.

Muito me agrada!

Caminhavam ao vento Adorno e Horkheimer, tentando assoviar Richard Wagner possivelmente, quando de repente, não mais que de repente, aparece (super) Dalmoro e "dá um passo a frente"!!!

"Ôra, meu", pega esse elogio desmedido!

;)

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