sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Coluna do Leitor - Nosso Partido é Alto. Legenda: Fundo de Quintal

. . Por Mistura Indigesta, com 1 commentário

Tava vendo na néte uma entrevista do Zeca Pagodinho ao Jô – de quando ele deixava seus entrevistados falarem. Lá pelas tantas o Jô manda a pergunta fatal: “Zeca, qual a diferença entre pagode e samba de partido alto?”. “Bem, Jô, pra cantar pagode tem que ter ginga, tem que saber improvisar...”. “E partido alto?”. “Também...”. “Mas então é igual?”. “É igual mas é diferente...”. Tô com Zeca: é igual mas é diferente... Quando a gente escuta, toca, ou canta um pagode e um partido alto, sente a diferença. Não sei explicar nem entender, mas dá pra sentir... Aí me perguntam: “Então porque você faz questão de chamar de Pagode?”. Primeiro, tem o significado do termo: pagode é uma festa com música, geralmente moda de viola ou samba... música de pobre, feita por amadores – ou seja, por amor à música, não ao dinheiro. É uma festa em que a galera se sente parte da coisa, cantando, dançando e/ou batendo na mão... no caso do samba, sempre rola da galera ir pegando um ou outro instrumento e tocando junto mesmo... Não é plateia, é a razão da festa... é a diversão. Mas tem outro ponto que me motiva a chamar de Pagode; a provocação. Quando vem neguinho me dizer que “samba é bom, pagode é um lixo”, aí eu fico puto mesmo. Dá pra sacar na hora que tipo de gente é essa: uma gente que não entende nada da coisa... uma gente que não se sente tocada pelo batuque... que escuta dois sambistas foda – sempre gente morta – como mero consumo... consumo cult... consumo pra dizer que gosta... come sardinha e arrota camarão... gosta tanto de Cartola quanto de Beatles, Dostoievski ou de cinema francês... Tanto faz... Nem liga se gosta... liga no que os outros vão pensar... no tipo de conversa que vai poder ter com o tipo de gente que também gosta assim... Tanto faz o conteúdo, o que importa é a fitinha... Bota um monte de coisa diferente no mesmo rótulo (samba=bom) e outras coisas muito diferentes noutro (pagode=ruim) sem perceber que a distância entre coisas que chamam de samba (entre Noel, Caymmi, Adoniran e Monarco, por exemplo) é muitas vezes maior do que aquela existente entre esses e o que chamam de “pagode” (como Fundo de Quintal e Zeca)... Sem falar na gigantesca diferença entre Martinho, Exaltasamba, Só pra Contrariar, Karametade e Art Popular, todas igualmente rotuladas de “pagode”. Mas eu quero mesmo é falar de outra coisa, que tem a ver com o uso nada inocente de palavras para discriminar pessoas e atitudes. Tinha prometido pra mim mesmo que não ia escrever sobre eleição e que ia lá dar meu periódico voto nulo em paz com a minha consciência... não resisti. Não ando lendo jornal, mas foi pegar um e ver a abundância da (a)crítica suja pra me emputecer... Tenho completo nojo de todo o processo eleitoral e da democracia qual ela existe, mas não posso deixar de externalizar a minha repulsa pelo modo como essa gente encara a coisa. Sobretudo quando a escória dos (de)formadores de opinião brasileiros se metem a falar de “populismo”. Não vou entrar no mérito do uso histórico e teórico do termo, porque é muito controverso e, principalmente, muito chato. Gostaria só de chamar a atenção para um fato: sempre que você ler uma acusação de “populista”, observe como a única coisa que tá sendo acusada é que esse sujeito tá fazendo alguma coisa pra pobre. Tudo que é pra pobre é “populista”. Mano, se isso for ser populista, tomara que todo mundo o seja... Você, que acredita nesse troço de eleição, por favor, não se engane. Todos os governos são para os ricos. Alguns deles dão umas migalhas pros pobres. Há quem se contente com isso. Eu não. Provavelmente porque eu não passo fome, mas, por mais que eu tente me colocar no lugar de quem passa, eu não consigo. São as minhas contradições de classe (média cada dia mais baixa)... Eu queria acreditar na papagaiada democrática. Não consigo... Seria de bom-tom terminar com alguma citação de algum partideiro sangue-bom pra você não achar que eu escrevi tudo aquilo só pra encher linguiça, mas fiquei tão brocha com esse assunto, que prefiro me calar. Vai escutar por você. Vai num pagode, num bem amador.. aí, sim, você poderá sentir as semelhanças e as diferenças e entender que a importância da roda de samba está para muito além de se o som é bom ou ruim. Se o camarada tocando o cavaquinho é ou não é um virtuose formado em Tatuí. O negócio é muito mais embaixo... é reunir gente que se gosta, pra fazer coisas junta, se divertir junta, “construir” junta... viver um gozo democrático. Nos tempos chatos em que vivemos, isso, sim, é uma coisa revolucionária...
Smac

Peixe, vulgo Thiago Fernandes Franco, é um sujeito franco(!), como se autodefine. Também é pagodeiro do Pagode do Souza e jogador de futsal a procura de uma pelada. Ah, ele é um sujeito irônico! Diz ainda que estuda História pra não dizer Economia, e é professor de Sociologia.

Nosso Partido é Alto. Legenda: Fundo de Quintal está impresso na edição número 4 da Revista Miséria. Tão bonita está a versão do exemplar que seus integrantes, Batata, Ricardo Flóqui e João da Silva, entraram em crise, se perguntam se a Crítica Social não está sendo envolvida pelo Mercado, e melhor seria se a revista se chamasse "Très Chic". Mentira, claro que não!

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1 palpites:

"Qual a diferença entre o charme o funk? Um anda bonito e outro elegante". Concordo com o psilotérmico, a categorização e estigmatização em "nomes" como "samba" ou "pagode" tende a simplificar tudo para movimentar a indústria CULTural. Quando o sujeito "cult" muito bem descrito descobre que Jorge Argão - que ele ironizava por fazer som com o Exaltassamba - tem mais a ver com Cartola do que ele imaginava, fica estarrecido.

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