Não me diga também que religião é perda de tempo, puxa vida, com a sacolinha de PhDs que o senhor possui, muitos lhe dão ouvidos. Será mais um, de peso, pra ampliar o coro de “futebol, política e religião não se discute!!!”, por exemplo. E, não é por nada, não, se uma boa música não lhe convence, se o senhor pensa que é perda de tempo, pois convertendo as horas rezando e com a alma entre o céu e o inferno poderíamos nos aprimorar profissionalmente, melhorar de emprego, enfim, até praticar esporte e garantir uma vida saudável, a carreira que escolhi precisa das religiões. A política, vá lá, é chata, toda cheia de almofadinhas disfarçados, ou não, mas é imprescindível. E eu adoro futebol, vai. Então dá uma ajudinha... por favor, vamos valorizar as religiões pelo menos...
Outra, com esse moralismo todo que o senhor parece desfilar, dizendo que o Homem é bom, que o que importa é contemplar a natureza... Ah, beleza, mas a gente já é grandinho pra saber que o mundo está cheio de coisas ruins, de estupidez, de crueldade... Está vendo como o senhor é cheio de “religião”... O senhor somente retirou a palavra Deus e colocou outro nome pra esse trem aí, sô, chamou abstratamente de Homem, de Natureza. Mais uma vez, nenhuma novidade, convenhamos... Quer tanto criticar o Moralismo das religiões e acaba sendo tão moralista quanto... E isso é complicado... a única coisa que posso te pedir, diante de atacar moralismos e cair em outros, é para que tenhamos um mínimo de (auto)reflexão...
Observe uma coisa, por favor, a quantidade de reticências que a minha escrita apresenta. Vá pelas outras partes desta carta, ou apenas passe rápido de uma parte a outra. Reticências são um vício, me dói sabia? Por favor, peça a um colega do senhor entendido em computação que invente uma nova ferramenta textual para os nossos conhecidos programas de edição de texto. Aquele que mais uso e nada sei: o Word! Se arrastar o barra de rolagem a direita, percorrendo o texto rapidamente, poderá ver, quem sabe, como aparecem as reticências... Começo a achar que são sujeirinhas... A nova ferramenta textual então poderia se chamar “Vassourinha”!!! Assim o texto ficaria limpinho, limpinho, sem crise, o que acha?!
Quanto ao Homem e a Natureza, ainda, pra ficarmos mais próximos temporalmente, Tolstoi já apresentava nuances disso aí... Tudo bem, ele não é nada “científico”... humpf... Mas eu ainda prefiro Dostoievski também, preso na loucura humana, de uma racionalidade irracional, em convulsão por um fluxo de pensamentos absurdos... Ah!! ... Se o senhor continuar com essa pose equilibrada, durona, cheia de razão, metódica e sabida, todo coerente, seguro, de um pensamento claro, linear, “com certeza”, enfim, vou ter que continuar sozinho com as minhas ficções, com as minhas mentiras, não vou querer ser seu amiguinho... Continuo lá, imaginariamente, e só imaginariamente com os delírios do parceiro Riobaldo. Ele é um sujeito bom também, mas cheio de angústias, de lembranças, de sofrimentos, de medos, teve uma vida confusa... Sabe, ele não me faz muito bem... já o deveria ter abandonado faz muito... entretanto, vira e mexe fico inventando desculpas esfarrapadas pra ouvi-lo, quem sabe, pra que a minha história seja diferente da dele. Porém, a tristeza dele me aperta de um tanto...
Te faço assim uma sugestão, um convite, a partir do que pude presenciar recentemente ali na Catedral. Vai lá, vê se assisti a um concerto na Catedral da sua cidade, mas que seja com um coral também, pelo menos! Depois me conta! E a gente tenta trocar figurinhas! Ok?! E não carece de pressa, não, pois a vida é perigosa...
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ps.: Como dito no início, na primeira parte, este texto foi escrito, mais ou menos, em outubro, novembro de 2009. E apesar do pouco tempo, confesso que vivi um estranhamento muito grande quando fui revê-lo antes de postá-lo aqui, é como se não fosse eu quem o tivesse escrito, ou como se eu tivesse vergonha por ter escrito isso. Achei profundamente bobo o texto, mas enfim, escrevi e decidi que deveria colocar aqui também, pois ele já havia sido publicado na
2ª edição (ou edição 010) da revista Casuística. Aproveito, ainda, pra falar sobre os comentários que apareceram na segunda parte, publicada semana passada. Onde eu iria parar como isso? Bom, quando eu me deparei com essa conversa do Richard Dawkins pela primeira vez, logo me veio a cabeça Guimarães Rosa (exato, sou uma espécie de grouppie do escritor) e era minha intenção tentar aproximar estes dois universos na carta. E, sim, nada mais blasé, ou melhor, bastante “
meta-intelectual”, que escrever para alguém que não o irá responder, sequer lê-lo, é muito descabido de minha parte. O recurso torna-se ainda mais infantil, ou demodé :P – risos – quando pensamos no âmbito de (possíveis) leitores do blog. Não deixa de ser uma aposta, de qualquer modo... e mesmo que seja pra errar o alvo O.o