Samuel aprendeu a falar o próprio nome. Começou com um “El”, mas logo evoluiu para “Sai’el”. Que abstração potente é isso poder falar de si mesmo. Em pouco tempo ele já estava nos avisando de suas próprias atividades (“Sai’el cocozim”, “Sai’el não té naná”) e até de suas próprias sensações (“Sai’el tá fio”, “Sai’el sede").
Uma noite colocamos Samuel no berço, mas ele não quis dormir e começou a gritar de seu quarto: "Sai’el cholando! Sai’el cholando!". Rachamos o bico.
A representação tem suas ciladas. Chorar certamente não é o mesmo que descrever o choro. Mas acho que seria ingênuo acreditar que é "coisa de criança". Dizer "eu te amo", por exemplo, ou um simples "tchau, abraços!" é tão diferente assim?
Passei o dia pensando nisso. Nessa imagem que criamos de nós mesmos, que, muitas vezes, no automático, na repetição, no virtual, vai ressecando, vai substituindo a potência dinâmica que somos nós e vai nos facebookiando nesse simulacro estático que nós usamos para nos descrever e até pensar em nós mesmos. Penso que definitivamente não deve ser coisa de criança. Talvez até o oposto. Imagino que seja o Samuel crescendo. Fico um pouco passado. Venho escrever.
No dia seguinte a rotina se repete. Colocamos o Samuel para dormir e falo "Boa noite, Muca, um beijo". O Samuel não hesita: junta os lábios e "smack!".
Ufa! Posso dormir tranquilo!
2 palpites:
fico feliz! seus textos são sopros de esperança! Lais
Volte a escrever por favor
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