Estudando sobre como será o
desenvolvimento do Samuel, minha cabeça fica viajando com analogias. Descobri,
hoje, por exemplo, que para conseguir enxergar em profundidade, o bebê utiliza
três estratégias diferentes.
A primeira é um fenômeno chamado “paralaxe
do movimento”: quando nós nos movimentamos, os objetos que estão mais próximos
de nós parecem se mover mais do que aqueles que estão distantes. Não seria o
mesmo que dizia Rosa Luxemburgo: “quem não se movimenta não sente as correntes
que o prendem”? Fico aqui pensando: se eu não me mexer e tentar lutar por meus
direitos, os políticos não continuarão parecendo sempre “todos iguais”?
A segunda estratégia utilizada é a
diferença entre as imagens recebidas pelos dois olhos: quanto mais perto,
maiores as diferenças recebidas por cada um. Quanto mais próximas das nossas são
as ideias que observamos, parecem também maiores as diferenças que conseguimos
reparar. No entanto, se tentarmos eliminar essas diferenças ao invés de compreendê-las,
perderemos parte de nossa capacidade de colocar as ideias e objetos mais
distantes em perspectiva. Essa convivência entre duas visões diferentes exige
um esforço muscular, assim como olhar para nossa própria situação e cultura de
forma crítica, parece exigir um esforço maior de estranhamento.
Por final, utilizamos a
comparação entre objetos similares e a sua interposição. Uma vez que começamos
a adquirir a capacidade de identificar objetos, conseguimos compará-los com a
imagem que já gravamos deles próprios, entender quando estão parcialmente
cobertos e comparar objetos similares à distância para saber qual está na
frente e qual está atrás. Sem essa capacidade de memória, nossa percepção também
fica comprometida.
É claro que toda metáfora é
limitada, mas pensando no crescimento do Samuel, fico aqui imaginando como é
importante nos movimentarmos, nos esforçarmos para estranhar nossa própria
situação, para aceitar divergências internas e lembrarmos da nossa própria
história para construir uma visão em profundidade.