Tem uma dupla de senhoras que vive no quarteirão de casa. Uma delas vive numa casa mais acima, outra, mais abaixo da minha. Quando saio de casa, é comum encontrá-las pela calçada, ora uma está na casa da outra, ora a outra está na casa da uma. São duas velhinhas muito amigas. Quando estou em casa, muitas vezes estou na mesa da garagem com o computador, com um livro, ou simplesmente fazendo vários nada olhando para o vazio - sou muito bom nisso, aliás -, é comum que uma delas, ou ambas, cruzem a minha calçada. Não importa o momento, todas as vezes, irresistivelmente, eu as cumprimento de maneira efusiva, separo meu melhor sorriso, meu aceno mais empolgado, minha felicidade mais contagiante e dou bom dia, boa tarde, boa noite. Todas as vezes, rigorosamente, elas me olham nos olhos, às vezes olham uma para a outra, e não reagem em relação a mim, me ignoram solenemente.
Temos uma sintonia perfeita.