Era madrugada. Estava a sonhar com escadas rolantes enferrujadas no meio de algum lugar do semiárido, e as tais escadas em tons de laranja-escuro ascendiam ao céu cor de chumbo, naquelas cenas absurdas cheias de sentidos que só existem durante o sono. Estava apreciando essa cena tétrica, congelada no tempo, com a cores empoeiradas do solo contrastando com os tons estranhamente naturais-mas-artificiais das escadas contrastando com os tons etéreos do céu, com firmamento e solo unidos por uma ponte artificial, quando começou.
Uma batida metálica, repetida, espaçada em intervalos iguais, em uma intensidade certamente inadequada a qualquer momento do dia, subentendendo desespero ou inspiração extraordinária; parecia a marcha louca e sem sentido de um homem só sobre o capô de um carro.
O barulho dissipou qualquer ensejo de se manter sonhando.
Levantei grunhindo, procurando na realidade aquilo que conseguia superar com tanta insistência a existência de um sonho. Abri a janela mais próxima da fonte de barulho, me preparando para tentar entender o absurdo que é ficar fazendo um estardalhaço desses de madrugada, e...
Nada.
Só o silêncio das cinco da manhã, o vento carregando o frio que o sol do amanhecer ainda não roubou, o sol se levantando timidamente por trás das árvores de uma praça e a típica inação de um dia que ainda não começou.
Um silêncio mais do que desconfortável fez com que eu questionasse o quão real era o maldito barulho metálico que me acordou e, por extensão, qual seria o remédio que se deve começar a tomar quando começa-se a ouvir barulhos intensos que talvez nem existam.
Deixei isso pra lá para assistir, um pouco impressionado, à luz do sol passando pelos buracos entre as folhas das árvores e iluminando com tons rosados as poucas nuvens do céu e as casas, prédios e lojas ao redor da praça, conforme amanhecia o dia. Conseguia distinguir só formas e cores, graças à miopia forte e à falta de óculos, mas nem por isso a paisagem estava menos bonita: o cenário estava instigante no jogo que luz, sombra e formas borradas desenhavam, à maneira de uma paisagem impressionista trazida ao mundo por um par de olhos falhos.
Independente dos sons terem sido reais ou não, as ações que eles desencadearam tinham valido a pena: sem querer, comecei a entender o porquê do nascer do sol ser considerado tão bonito, inspirador e estimulante a ponto de fazer algumas pessoas aguardá-lo tão ansiosamente em algumas situações.
Fiquei quinze minutos tomando vento na cara, vendo o sol se levantando e deixando a madrugada com cara de manhã.
Fui dormir, satisfeito e surpreendido, pensando em como algo que pode ter sido real ou não fez com que eu visse algo tão bonito e aproveitável. Ensaiei em pensar como isso tudo pode ter um paralelo com a arte, que independente de partir do real ou não, de ser criada com sanidade ou loucura, tem a sua importância não na sua origem, mas sim àquilo que ela nos leva - experiências curiosas e únicas, que ajudam a carregar a vida e seus problemas com um pouco mais de leveza.
Dispensei tudo isso e caí no sono com a certeza de que era só louco, pesadamente míope e levemente sortudo de ter aberto a janela na hora certa.
Uma batida metálica, repetida, espaçada em intervalos iguais, em uma intensidade certamente inadequada a qualquer momento do dia, subentendendo desespero ou inspiração extraordinária; parecia a marcha louca e sem sentido de um homem só sobre o capô de um carro.
O barulho dissipou qualquer ensejo de se manter sonhando.
Levantei grunhindo, procurando na realidade aquilo que conseguia superar com tanta insistência a existência de um sonho. Abri a janela mais próxima da fonte de barulho, me preparando para tentar entender o absurdo que é ficar fazendo um estardalhaço desses de madrugada, e...
Nada.
Só o silêncio das cinco da manhã, o vento carregando o frio que o sol do amanhecer ainda não roubou, o sol se levantando timidamente por trás das árvores de uma praça e a típica inação de um dia que ainda não começou.
Um silêncio mais do que desconfortável fez com que eu questionasse o quão real era o maldito barulho metálico que me acordou e, por extensão, qual seria o remédio que se deve começar a tomar quando começa-se a ouvir barulhos intensos que talvez nem existam.
Deixei isso pra lá para assistir, um pouco impressionado, à luz do sol passando pelos buracos entre as folhas das árvores e iluminando com tons rosados as poucas nuvens do céu e as casas, prédios e lojas ao redor da praça, conforme amanhecia o dia. Conseguia distinguir só formas e cores, graças à miopia forte e à falta de óculos, mas nem por isso a paisagem estava menos bonita: o cenário estava instigante no jogo que luz, sombra e formas borradas desenhavam, à maneira de uma paisagem impressionista trazida ao mundo por um par de olhos falhos.
Independente dos sons terem sido reais ou não, as ações que eles desencadearam tinham valido a pena: sem querer, comecei a entender o porquê do nascer do sol ser considerado tão bonito, inspirador e estimulante a ponto de fazer algumas pessoas aguardá-lo tão ansiosamente em algumas situações.
Fiquei quinze minutos tomando vento na cara, vendo o sol se levantando e deixando a madrugada com cara de manhã.
Fui dormir, satisfeito e surpreendido, pensando em como algo que pode ter sido real ou não fez com que eu visse algo tão bonito e aproveitável. Ensaiei em pensar como isso tudo pode ter um paralelo com a arte, que independente de partir do real ou não, de ser criada com sanidade ou loucura, tem a sua importância não na sua origem, mas sim àquilo que ela nos leva - experiências curiosas e únicas, que ajudam a carregar a vida e seus problemas com um pouco mais de leveza.
Dispensei tudo isso e caí no sono com a certeza de que era só louco, pesadamente míope e levemente sortudo de ter aberto a janela na hora certa.