VÍDEO: MURILO CAMPANHA CONTA ITATINGA

O psicanalista Murilo Campanha fala sobre Itatinga, um dos maiores bairros de prostituição da América Latina, onde ele tem seu consultório.

O nadador

Uma crônica de Hugo Ciavatta.

Ainda que as bolachas falassem

Crônica de Fábio Accardo sobre infância e imaginação

Ousemos tocar estrelas

Uma reflexão de Thiago Aoki.

Entre o amarelo e o vermelho

Uma crônica de Hugo Ciavatta

O homem cordial vinhedense

A classe média vai ao barbeiro. Uma crônica de Caio Moretto.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Os Rolezinhos e o Direito à Cidade

. . Por Thiago Aoki, com 1 commentário

“Resgate do homem como o principal protagonista da cidade que construiu (…) o ponto de encontro para a vida coletiva” (Henri Lefebvre, 1968, introduzindo o Direito à Cidade)

 O “Direito à Cidade” é uma bandeira histórica do Movimento do Passe Livre e esteve em discussão durante as manifestações de junho do ano passado. Para o MPL, o passe gratuito seria uma das ferramentas que auxiliariam na apropriação da cidade pelos seus cidadãos. Como nos lembra o bordão, “não são apenas 20 centavos”, mas sim toda uma rede que impede os acessos dos moradores da metrópole às benesses da mesma. A cidade é na maioria das vezes relacionada apenas ao trabalho, e seus habitantes, em especial a população pobre, poucas vezes dedica seu tempo livre à experimentá-la. O flanêur (“passeador”) de Baudelaire, figura que se dedicava a andar, contemplar e fruir a cidade, talvez não existisse na periferia de São Paulo, ou quem sabe forçadamente, durante o longínquo tempo que leva para chegar ao seu emprego.

Se “Os Titãs”, intuitivamente, já diziam que não basta comida, David Harvey, em entrevista ao Blog da Editora Boitempo, é certeiro: “a questão de liberar espaços controlados pelo Estado para fazer deles um bem comum controlado pelas pessoas é, na minha opinião, crucial. A reversão da privatização dos espaços públicos é também vital e eu esperaria ver muito mais movimentos dirigidos a esses fins”.

Outro ponto mal compreendido pelos nossos gestores após as manifestações de junho foi a segurança pública. Durante o período ficou claro como a polícia é seletiva em quem bate e quem mata, como no inesquecível caso de Amarildo. Quando na verdade, ela deveria ser uma das possibilitadoras do acesso à cidade. Porém os extermínios na calada da madrugada das periferias indicam o total despreparo de uma polícia extremamente militarizada, campeã em assassinatos e cuja filosofia - amparada em preceitos existentes desde a ditadura - tem como epicentro a destruição (não a construção), fazendo com que a população tenha temor, e não confiança.

Infelizmente os muitos avanços que poderiam ter decorrido das grandiosas manifestações com relação a uma de suas principais bandeiras, que é o “Direito à Cidade”, esfumaçaram-se. Talvez porque ela fora substituída por bordões perigosos e confusos, como “o gigante acordou”, “sem violência”, “fim da corrupção”, fruto da adesão de setores conservadores aos protestos. Fato é que, de alguma maneira, reivindicações amplas e que nada dizem, em geral não se prestam a mais do que para despolitizar e neutralizar uma ação política.

E, como no futebol, onde “quem não faz, toma”, os descasos das políticas públicas e a falta de visão dos gestores sobre as demandas latentes nas manifestações de junho, estão evidentes nos chamados “Rolezinhos”. As grandes cidades perderam a chance de discutir e propor medidas de promoção do Direito à Cidade. Posso estar errado, mas não me lembro de nenhuma secretaria especial, nenhum grupo permanente de estudo sobre o assunto. Nenhuma criação ou incremento à editais ou leis de fomento relativos às artes de rua, nenhum investimento extra no papel que a educação pode ter, nenhuma mudança na filosofia da segurança pública ou na desgastante jornada de trabalho. Até mesmo sobre o ponto inicial dos protestos, o transporte público, pouco se fez.

E aí estão os jovens, em sua maioria negros e pobres (duplamente marginalizados), que nada mais fazem do que tentar participar dos únicos acessos que a cidade finge lhes oferecer: o consumo e a repressão policial.

Não se trata de ser contrário ou favorável aos rolezinhos, esta é uma grande armadilha, mas sim entender o que eles nos apontam. Neste sentido, fica a dúvida aos nossos gestores: se não querem pobres e negros cantando seus funks no shopping, por que, ao invés de bater, não lhes dão a cidade?

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